Resumo

Durante muito tempo a historiografia tendeu a olhar para as pessoas que de forma mais visível haviam feito a história. Porém, nos últimos 40 anos, o interesse pelos “excluídos da história” – marginais, prostitutas, bandidos, bruxas, anarquistas, etc. – cresceu de maneira significativa. Esse interesse fez com que houvesse uma rica ampliação dos sujeitos históricos que poderiam ser objeto de estudo. Partindo dessa perspectiva, a pesquisa tem por objetivo compreender as motivações das classes populares paulistanas ao se apropriarem do futebol, esporte que, em um primeiro momento, era bastante restritivo quanto aos tipos sociais que poderiam praticá-lo nas grandes praças esportivas, como o Velódromo Paulista. Acredito que o futebol foi apropriado e ressignificado conscientemente pelas classes populares no início do século XX, e não imposto de cima para baixo, uma vez que as pessoas possuem experiência, refletindo sobre o que acontece a elas e ao seu mundo. A compreensão do modo como os membros das classes populares se apropriaram do jogo, da forma como o praticavam e de suas motivações para isso nos ajuda a compreender de que maneira aquelas pessoas viviam e como se enxergavam, ampliando nossa compreensão sobre aquela sociedade. Assim, uma das questões centrais para o trabalho é a tentativa de apreender de que forma os jogadores membros das classes populares, que não eram bem aceitos nas grandes praças esportivas, entendiam a restrição de sua presença nos campos do futebol de espetáculo. Em outras palavras, pretendo entender se os membros das classes populares desejavam jogar futebol nesses espaços, enxergando sua ausência ali como um fracasso pessoal. A fim de responder às questões será utilizado o método micro-histórico, na perspectiva de que a mudança de escala de observação pode ajudar a compreender o problema de uma nova forma. Olharei para a vida de alguns sujeitos históricos previamente mapeados a partir das fontes, e, a partir disso, tentarei compreender o modo como os membros das classes populares se apropriaram do futebol, o ressignificaram e o inseriram em suas vidas. As fontes utilizadas serão: os periódicos A Gazeta Esportiva e O Estado de S. Paulo; jornais da imprensa não oficial (anarquistas, comunistas, de bairro e de clubes); estatutos e atas de assembleia dos clubes, encontradas no Diário Oficial do estado de São Paulo; ocorrências policiais e processos criminais. O recorte escolhido, entre 1928 e 1943 se explica pela criação da Liga Esportiva do Comércio e Indústria, que era a seção da Associação Paulista de Esportes Atléticos que congregava times de trabalhadores, em 1928, e pela criação do Serviço de Recreação Operária, órgão do governo federal que tinha por objetivo coordenar os meios de recreação operária.