Resumo

As doenças cardiovasculares (DCV) são as principais causas de morte no mundo. Estas doenças se originam e se desenvolvem a partir de uma série de fatores de risco durante os anos da infância e adolescência. Dois componentes da aptidão física relacionada á saúde apresentam associação com estes fatores de risco; a aptidão cardiorrespiratória (ApC) e a composição corporal. Indivíduos jovens com baixos níveis de ApC e níveis elevados do componente de gordura da composição corporal (sobrepeso/obesidade) têm maiores probabilidades de portarem estes fatores de risco. É neste contexto que se insere este estudo, que tem como principais objetivos: 1) identificar a capacidade de triagem de crianças e adolescentes com maior probabilidade de portarem fatores de risco para DCV dos pontos de corte disponíveis na literatura para a ApC e para indicadores antropométricos de sobrepeso e obesidade (IASO), e; b) propor novos pontos de corte para a ApC e IASO de escolares brasileiros de 7 a 12 anos de idade. A amostra do tipo aleatória por conglomerados foi constituída por 1.413 escolares de 7 a 12 anos de idade. A ApC foi medida através do teste de corrida/caminhada de 9 minutos. Os IASO utilizados foram o índice de massa corporal (IMC), o somatório de dobras cutâneas triciptal e subescapular (TRI+SUB) e triciptal e da panturrilha (TRI+PAN), a circunferência da cintura (CC), e o índice de conicidade (IC). O colesterol total (monitor portátil Roche Diagnostics) e as pressões arterial sistólica e diastólica (método auscultatório) foram medidas e através delas foram criadas referências de fatores de risco para DCV. Através da curva Receiver Operating Characteristic (ROC) entre a ApC e os IASO, com as referências de fatores de risco para DCV foram identificados os valores dos pontos de corte que corresponderam ao melhor ajustamento entre sensibilidade e especificidade. A sensibilidade e a especificidade dos pontos de corte disponíveis na literatura e os propostos por nosso estudo foram calculadas a partir de tabelas de contingência com as referências de fatores de risco para DCV. Adicionalmente foi utilizada a regressão logística binária para identificar o quanto os indivíduos que não atenderam aos pontos de corte propostos tinham a mais de probabilidade de apresentar fatores de risco para DCV em relação àqueles que atenderam. Os resultados indicaram que os pontos de corte disponíveis na literatura para a ApC não apresentam bom ajustamento entre sensibilidade e especificidade, não sendo adequados para a avaliação da ApC. Os pontos de corte disponíveis na literatura para os IASO por outro lado, no geral, apresentaram aceitáveis ajustamentos entre sensibilidade e especificidade. Os pontos de corte propostos no presente estudo para ApC e para os IASO mostraram-se adequados para a identificação de escolares com maiores probabilidades de portarem fatores de risco para DCV, com ajustamentos entre sensibilidade e especificidade melhores que os apresentados pelos pontos de corte disponíveis na literatura. Estes resultados ficam reforçados quando as análises da regressão logística binária indicam que a probabilidade de escolares que não atenderam aos pontos de corte propostos em nosso estudo é maior que a probabilidade de escolares que não atenderam aos pontos de corte propostos na literatura de portarem fatores de risco para DCV em relação aos escolares que atenderam aos pontos de corte. Dentre os IASO o IMC e o TRI+SUB foram os que apresentaram melhor capacidade de identificar escolares com maior probabilidade de apresentar fatores de risco para DCV. Contudo, os demais IASO, com exceção do IC, também mostraram adequada capacidade. Frente aos resultados encontrados ficam evidências de que indivíduos com baixos valores de ApC e elevados de IASO possuem maior probabilidade de apresentar fatores de risco para DCV em comparação com aqueles com valores mais apropriados. Além disto, os pontos de corte propostos pelo presente estudo mostraram-se mais adequados que àqueles disponíveis na literatura para a identificação de escolares com maior probabilidade de portarem fatores de risco para DCV. Desta forma, sugerimos as medidas de ApC pela corrida/caminhada de nove minutos e dos IASO estudados, com exceção do IC, e a avaliação pelos pontos de corte propostos no presente estudo para triagem de escolares com risco aumentado para apresentarem fatores de risco para DCV.

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