Resumo

A esfera da administração esportiva como também os cargos de comando técnico, em âmbito nacional e internacional, constituem espaço de domínio masculino. No Brasil, a representatividade de mulheres como treinadoras esportivas é muito baixa, sendo inferior a 10%. Esse cenário nos leva a questionar por que existem tão poucas mulheres atuando neste cargo, e o que limita o acesso e a ascensão feminina nessa carreira. Estudo anterior verificou que uma das razões associadas à pequena atuação de mulheres como treinadoras são as inúmeras barreiras enfrentadas por elas. Diante dessa constatação, o estudo objetivou identificar e analisar quais são estas barreiras encontradas por treinadoras brasileiras durante sua carreira. Foi realizado um estudo de caráter descritivo e com abordagem qualitativa. Os dados foram coletados através de entrevistas do tipo semiestruturada realizadas com treze mulheres que atuam como treinadoras esportivas nos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, mas que também são atuantes no contexto nacional e internacional dos seguintes esportes: natação (n=4), saltos ornamentais (n=1), ginástica aeróbica (n=1), judô (n=1), futsal (n=1), futebol (n=1), handebol (n=3) e basquetebol(n=1). A análise dos dados foi realizada de acordo com a proposta da técnica de análise categórica de Bardin (2008). As principais barreiras identificadas foram o domínio masculino no contexto esportivo; o preconceito; a dificuldade de aceitação de pais e atletas; o conflito da vida pessoal versus a vida profissional da treinadora que representa um desafio para a mulher conciliar sua carreira com um relacionamento afetivo e o cuidado da casa e família; a baixa remuneração ou até mesmo sua ausência; e, o estereótipo de homossexualidade. Para elas, as dificuldades começam a partir da percepção das pessoas de que a carreira de treinador esportivo é adequada para homens e que apenas eles têm capacidade para ocuparem tal cargo, o que leva à dúvida da competência profissional delas e à necessidade de provarem que possuem tal capacidade para obter credibilidade quando assumem a função. Concluiu-se que as barreiras interpostas às mulheres treinadoras reforçam um ciclo de desvantagens em que as oportunidades são restritas para acesso ao cargo, o que leva a existir apenas um pequeno número de mulheres atuantes. Com pouca visibilidade e representatividade, elas ficam à margem da estrutura de poder do comando técnico esportivo e não conquistam mais espaço para outras mulheres, mantendo-se a configuração de um grupo simbólico e minoritário. 

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