Resumo
Ao ler/escutar/escrever a palavra infância somos tomados por representações que implicam em tecnologias de governo das condutas dos infantis e dos adultos que com eles convivem. Isso impacta as vontades e saberes desses sujeitos, e, com isso, determinam o que deve ou não ser feito com eles, homogeneizando, muitas vezes, suas formas de pensar, falar e agir. Ao se tratar da infância e da relação entre ela e os adultos, deixamos de lado que tanto a sua invenção como a sua manutenção ocorreram por uma vontade de poder que produz saberes e técnicas de governo das condutas dos sujeitos infantis, consequências da modernidade. Em tempos de hegemonia da racionalidade política neoliberal, esse processo se intensifica. O que se vê são deslocamentos nas relações de poder que influem as formas de governar essa população, assim como nos modos como os infantis conduzem a si mesmo. O contexto escolar não escapa desse processo, pois é responsável por regular as possibilidades das ações das crianças, utilizando-se de técnicas como: avaliação, estruturação dos espaços físicos, aulas, enfim, o currículo. Não à toa, ganham forças as políticas curriculares para os infantis. Na tentativa de analisar esse cenário, o nosso objetivo neste trabalho é analisar os discursos pedagógicos presentes nas Diretrizes Curriculares Básicas de Campinas para a Educação Infantil (DCCEI), a fim de identificar os regimes de verdade que produzem, afirmam e visam a governar o corpo dos infantis. Para tanto, tomamos como ferramenta metodológica a proposta de análise pós-estrutural de currículo, produzida por Cherryholmes (1993) e, como ferramenta conceitualao noção de ciclo de políticas curriculares, de Stephen Ball e alguns elementos dos Estudos Culturais, na sua vertente pós-estruturalista. Os resultados indicam que diante das reformas educacionais para a Educação Infantil (EI) em disputa que tentam fixar os corpos dos in(fala)ntes, as DCCEI compõem um movimento de resistência à forma assistencialista do governo das crianças da Educação Infantil. No entanto, o documento por hibridizar os discursos oficiais e as tendências pedagógicas produz recontextualizações, que fragilizam suas intenções, e, por efeito, promovem simultaneamente a necessidade de formação continuada das professoras da EI e novas estratégias para conseguirem colocarem em jogo aquilo que se propõem, favorecendo o neoliberalismo.
Disponível em http://www.repositorio.unicamp.br/