Resumo
Este estudo, de natureza qualitativa, teve como objetivo averiguar as possíveis relações da crescente participação feminina em atividades físicas de aventura na natureza e o redimensionamento de seu papel na sociedade. O estudo foi desenvolvido em duas fases. A primeira constou de uma revisão de literatura sobre as temáticas em questão e a segunda, de uma pesquisa exploratória, utilizando-se uma entrevista estruturada, como instrumento para a coleta dos dados. A população alvo do estudo foi composta de uma amostra de 30 mulheres, praticantes freqüentes de atividades físicas de aventura na natureza. Para a interpretação dos resultados foi utilizada a Técnica de Análise de Conteúdo Temático, estabelecendo-se os quatro indicadores: motivos de aderência à prática de AFAN pela população feminina; relação prática de atividades e o papel feminino; dificuldades e barreiras percebidas pelas mulheres na prática de AFAN e a ressonância das práticas das AFAN no papel social feminino. Ao fazer relação aos motivos de aderência, estes se concentram na possibilidade de estar em contato com a natureza, na capacidade regeneradora das tensões e estresses cotidianos e a aquisição de novas experiências entre outros. Acerca da relação prática de AFAN e o papel feminino, a maior parte das entrevistadas alegaram a existência dessa relação e suas justificativas se concentram no aumento da força, da coragem, da determinação, da resistência e da disposição na superação de desafios e obstáculos, competência e garra em determinados momentos das diversas vivências, despertar para os valores preservacionistas, como também, ruptura do mito “sexo frágil”, que há tempos está impregnado ao público feminino. Quanto à percepção de dificuldades e barreiras referentes à prática de AFAN, a maior parte das entrevistadas apontou a não existência desses fatos, alegando a existência de apoio por parte da população masculina, de amigos e familiares. Alguns outros elementos como a força e o condicionamento físico, podem se tornar aliados no que tange à facilitar a prática dessas atividades, segundo algumas entrevistadas, porém, não podem ser considerados fatores limitantes à prática, visto que outros aspectos são relevantes, no caso, os de ordem psicológica, como maior controle das emoções e tomadas rápidas de ações, tornam-se elementos importantes na experimentação dessas práticas na natureza. Quanto às possíveis reverberações das AFAN no cotidiano das praticantes e nas possíveis mudanças acerca de seu papel social, pode-se perceber, nas falas das entrevistadas, que os benefícios fazem relação aos aspectos psicológicos, sociais, profissionais e pessoais. Conclui-se com esses dados que, as AFAN contribuíram de maneira efetiva, segundo o olhar das entrevistadas, para um maior engajamento na sociedade, nos níveis social, assim como profissional e pessoal na sociedade. Essas atividades na natureza firmaram os valores e as atitudes femininas frente às mais diversas situações e as tornaram mais confiantes quanto as suas ações. Essas práticas são entendidas, por essas mulheres, como uma realização pessoal, que vai além do pensamento pequeno de ser encarada como mais um espaço ocupado por elas ou mesmo mais uma tentativa de se igualar ao público masculino. Estas sempre buscaram liberdade, satisfação pessoal e prazer e, nestas vivências junto ao meio ambiente natural, puderam realizar essas vontades e anseios. O estudo constatou que a ressignificação é uma via de mão dupla, uma vez que tanto as mudanças sociais interferiram sobremaneira na adesão a estas práticas, quanto estas reverberaram em alterações nas prática social, nos mais diversos aspectos.