Resumo

Neste trabalho, apresento os pontos centrais de minha pesquisa de doutorado, e alguns resultados parciais obtidos durante a investigação, que foi iniciada em 2014 e se encontra em andamento. Nesta pesquisa, venho abordando o impacto da reforma realizada no Estádio Jornalista Mario Filho – o Maracanã –, entre os anos de 2010 e 2013, sobre o comportamento e as emoções dos torcedores. A reforma em questão teve como objetivo a adequação do velho estádio aos rígidos padrões de conforto e segurança exigidos pela FIFA e pelo COI para a realização dos dois principais megaeventos do calendário esportivo mundial: a copa do mundo de futebol masculino, sediada pelo Brasil em 2014, e os jogos olímpicos de verão, sediados pela cidade do Rio de Janeiro em 2016. Essa reforma também promoveu a adaptação do Maracanã a um novo modelo de estádio, que surgiu na Inglaterra, na década de 1990, e foi incorporado pela FIFA, tornando-se um paradigma internacional na década de 2000. O novo modelo consiste na transformação dos antigos estádios de massa em modernas arenas all-seater multiuso, visando oferecer melhores condições de conforto e segurança aos torcedores. Contudo, nesse movimento, não foi somente a arquitetura dos estádios que mudou. Também foram modificadas as normas de conduta exigidas dos torcedores – as quais se tornaram mais rígidas – e, sobretudo, o próprio perfil do público presente nos estádios: antes composto, em sua maioria, por homens das classes trabalhadoras, agora ele seria constituído majoritariamente por famílias de classe média. Em conseqüência desse processo de arenização, os estádios teriam se transformado em espaços elitizados de consumo e de controle, perdendo as características que lhes haviam consagrado historicamente como redutos da cultura popular. Em última instância, eles teriam perdido sua antiga atmosfera, tornando-se mais frios, ou menos emocionantes. Algo semelhante teria ocorrido ao Maracanã, em virtude da reforma para a copa e as olimpíadas. Em minha pesquisa, venho analisando justamente o alcance desse processo e suas conseqüências sobre o comportamento e as emoções dos torcedores cariocas. Para tanto, realizei trabalho de campo em jogos do Flamengo disputados no Maracanã, e entrevistas qualitativas com torcedores do clube. Minha hipótese é de que, embora possamos, de fato, identificar um projeto de transformação do Maracanã num espaço elitizado e disciplinarizado, esse processo não se dá sem conflitos, enfrentando a resistência de alguns grupos de torcedores. Assim, o que temos no Novo Maracanã é o embate entre diferentes formas de torcer, numa disputa em que as emoções aparecem como um elemento central, tendo em vista sua importância para a constituição de identidades e subjetividades nesse universo simbólico.

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