Resumo

Nesta exposição, procuramos demonstrar que as novas significações do corpo acompanham o processo de descentramento do sujeito da modernidade. Antes, a imagem do corpo dominante era de um indivíduo do sexo masculino, branco, de músculos salientes que valorizavam as idéias de trabalho e de força. Agora, quando o sujeito se abre à diferença sexual e à distinção cultural, a antiga imagem do corpo é liberada, entrando numa encruzilhada que oferece várias direções. Duas delas merecem destaque. Através da primeira, aprofunda-se o culto de um corpo narcisista, obedecendo aos novos estilos e valores refletidos pela cultura de massa. A ideologia da saúde perfeita que justifica esta imagem narcísica é aperfeiçoada, lembra Lucien Sfez, pelas novas tecnologias. Clonagens, transplantes e modelagens são práticas usuais nesta corrida pela beleza cibernética. Na segunda direção, emerge um corpo intimista, que se funda nas idéias de autoaceitação e autoconhecimento. Aqui, a vivência da reflexividade aparece como uma reação contra a cultura narcisista, que valoriza o individualismo em detrimento da solidariedade coletiva. Neste segundo caso, o da cultura reflexiva, o corpo é compreendido não como uma máquina de manipulação, mas como um ser vivo, como uma metáfora biológica complexa. A expansão desta cultura alternativa tem resultado numa espécie de orientalização do campo terapêutico clássico, através de um diálogo intenso, sobretudo, com a medicina indiana e chinesa. Tentaremos, no possível, ilustrar nossos comentários com informações das entrevistas com os terapeutas fundadores do movimento alternativo em Recife.

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