Integra

A evolução do modelo econômico ao longo dos séculos, está relacionada intimamente com o desenvolvimento da educação escolar.

Com o crescimento das sociedades industriais, as necessidades e as exigências da classe trabalhadora, resultado do novo sistema vigente, levou a um aumento das instituições escolares. Durante todo o seu processo de existência, a educação passou por grandes transformações. O mesmo, ocorreu com a Educação de Jovens e Adultos (EJA). Estudos sobre EJA consideram o ensino dos jesuítas, aos índios na época da colonização, como a primeira forma de ensino voltada aos adultos no Brasil. Ao passar dos séculos ocorreram muitas mudanças, entre elas, o estabelecimento dos artigos 37 e 38 presentes na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n 9.394/96.

Pessoalmente sofri influências da área de Licenciatura, desde meu ingresso na graduação até os dias atuais. Ao término do Bacharelado em Educação Física, optei pela complementação em Licenciatura. No mesmo ano em que terminava o Bacharelado, participei do processo seletivo de bolsa vinculado à Pró-Reitoria de Extensão da Unesp (Proex), para atuar no Projeto de Educação de Jovens e Adultos: Práticas e desafios (PEJA). Depois de selecionada, no ano seguinte já iniciei o trabalho nas turmas do PEJA.

Participar de um Projeto como esse está me enriquecendo tanto no campo profissional como no pessoal. Além das experiências que adquiri no dia a dia das salas de aula, também há outras possibilidades que o Projeto fornece aos seus bolsistas. São oferecidos dois encontros anuais onde temos palestras informativas e troca de experiências com os outros campi. Também há o lado de incentivo às pesquisas. Temos apoio da Proex para participarmos de congressos, simpósios, encontros e etc. Todas essas oportunidades fazem com que o grupo se diferencie de alguns projetos de extensão, pelas possibilidades investigativas que a atuação no projeto abre, a partir de questionamento que vamos delineando no campo da educação de jovens e adultos.

Nas aulas trabalhamos com diferentes temas e contemplamos matérias como português, matemática, biologia, história, geografia. Durante a elaboração do relatório final, algo me inquietou: "A ausência da Educação Física nas turmas". Percebi que eu tinha trabalhado com todas as disciplinas durante o ano, menos aquela que tenho maior conhecimento e formação específica. Essa inquietação me levou à busca por material didático que me orientasse para desenvolver aulas de educação física nas turmas. Foi então que me deparei com a ausência de pesquisas realizadas com EJA/Educação Física. Por isso, decidi investigar alguns aspectos relacionados à Educação Física com a finalidade de ampliar as possibilidades de EJA. Mais especificamente pretendo analisar através de questionários e entrevistas com alunos de EJA, o que dizem sobre a problemática da educação física para jovens e adultos para compreender quais são os interesses e as necessidades desse grupo, na área da cultura corporal.

Justificativa

O termo: "Educação de Jovens e adultos" aparece pela primeira vez, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 1996. Anterior a essa, a LDB de 1971 utiliza o termo: "Ensino Supletivo". Apesar de conter alguns avanços, a LDB de 1996 ainda apresenta algumas lacunas relacionadas à Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Ao relacionarmos a Educação Física com EJA os problemas são ainda maiores. A LDB garante que a Educação Física seja oferecida a todos, apesar de facultativa nos cursos noturnos. Esse é um dado importante, já que os chamados cursos supletivos são oferecidos no período noturno. A não obrigatoriedade nos cursos noturnos fere abertamente vários princípios da Constituição. Por exemplo, está no art. 5º que "todos são iguais perante a lei". Mas pelo que podemos observar, isso não vale para a educação, já que faz essa diferenciação entre os cursos noturnos e os cursos integrais. A nova LDB reforça a exclusão dos jovens e adultos que precisaram parar de estudar para poderem trabalhar e, com isso, não tiveram acesso ao ensino da Educação Física. A Lei só vem a reforçar a continuidade da exclusão na área da cultura corporal.

Ainda no capítulo específico sobre educação, o art. 206 da Constituição prevê a "igualdade de condições para o acesso e permanência na escola", incorporado pelo art. 3o da LDB 9.394/96. Deixar faltar, então, o ensino da Educação Física aos cursos noturnos é uma forma de discriminação porque, pela não obrigatoriedade acaba dificultando o acesso e o estabelecimento de condições para o exercício da educação física.

A proposta curricular de EJA foi lançada pelo MEC em 2002 contemplando a Educação Física. Essa proposta apresenta um dado estatístico intrigante sobre a Educação Física, comparada a outras disciplinas, o percentual da carga horária total desta é somente de 0 a 5%, faz-se portanto necessário, a ampliação de pesquisas na área de EJA, principalmente na Educação Física, a qual muitas vezes é desvalorizada pela própria instituição escolar.


Objetivo

O objetivo do presente estudo é levantar e analisar as experiências anteriores e expectativas dos educandos de EJA sobre a atividade física. A partir dessa análise, apontar elementos que possam subsidiar o papel da Educação Física como disciplina na educação de jovens e adultos.

Metodologia

Para atingir os objetivos propostos pelo presente trabalho, será realizada uma pesquisa qualitativa na qual os dados serão levantados a partir da aplicação de questionário e entrevista aos alunos de EJA. A pesquisa qualitativa permite que o problema seja analisado em seu ambiente natural, de forma multifacetada e com grande flexibilidade.

O questionário será constituído por perguntas objetivas direcionadas a área da Educação Física para compreender qual o nível de conhecimento desses alunos. As entrevistas realizar-se-ão de forma semi-estruturada em que se desenvolve a partir de um esquema básico, porém não rígido. A entrevista servirá como suporte de complementação para esclarecer alguns pontos que não tenham ficado claros durante a análise dos questionários.

Serão entrevistados alunos do PEJA/Rio Claro e de escolas municipais ou estaduais, onde exista supletivo. Essa seleção é devido à afinidade da pesquisadora com o grupo PEJA. Além disso, possibilita a comparação entre instituições formais de ensino (escolas) e não formais (PEJA).

As autoras, Aline Di Thommazo e Suraya Cristina Darido são do Departamento de Educação Física da UNESP, Campus de Rio Claro - SP

Referências bibliográficas

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