Resumo

Resumo: O estádio é um dos espaços que reflete as mudanças sociais em um determinado tempo-espaço, sendo por elas atingido e, ao mesmo tempo, influenciando-as. A Copa do Mundo de 2014 trouxe a promessa de mudanças nas formas de uso e de apropriação de alguns estádios brasileiros, já que estes foram reformados e reformulados para este megaevento. O estádio Mineirão, situado em Belo Horizonte/MG foi um dos que passou por este processo. Este trabalho analisou as formas de uso e de apropriação do Mineirão, em dia com e sem jogos de futebol. Trata-se de uma pesquisa qualitativa do tipo exploratório-descritiva. A coleta de dados foi realizada no interior do estádio e no seu entorno, de dezembro de 2012 a dezembro de 2014. Para a coleta de informação, foram utilizados observação participante, formulário semiaberto e entrevista semiestruturada. Os resultados indicam que a esplanada passou a ser uma opção de equipamento de lazer em Belo Horizonte, para os moradores das regionais vizinhas Pampulha, em uma cidade que apresenta uma distribuição desigual desses equipamentos. As principais práticas realizadas na esplanada são skate, patins, caminhada e brincadeiras infantis. A legitimação do espaço é percebida pela sua ocupação, tanto durante a semana, quanto nos finais de semana. No uso do estádio para o futebol foi onde se viu o maior impacto da parceria público-privada, já que o estádio passou a operar dentro de uma lógica empresarial. Nessa reformulação, percebemos que os administradores do estádio e do clube/cliente fizeram a opção por um grupo de torcedores que, além de deter o capital financeiro para a aquisição do ingresso, devem incorporar os hábitos sugeridos por e para uma nova ordem do futebol. Os dados demonstraram que os torcedores têm um sentimento dúbio em relação à reforma do Mineirão, pois, ao mesmo tempo em que reconhecem as melhorias em termos de conforto, limpeza e segurança, sentem falta dos hábitos que constituíram a tradição do Mineirão, entre eles, se reunir nos barraqueiros, conversar e comer o feijão tropeiro. Em função dessa ausência, vários torcedores resistem e reinventam essa prática, via churrasquinho organizado em pequenos grupos ao redor do estádio, em momentos anteriores às partidas. Assim, verificamos que, se o processo de constituição das formas de uso e apropriação do espaço é dinâmico e o lazer, relacionado à cidade, contribui para a sua dimensão pública. Deveria haver uma política setorial de lazer, que levasse em consideração a diminuição das barreiras para a sua vivência, a ampliação dos seus conteúdos e o reconhecimento do seu caráter de mobilização e participação cultural. Por fim, creio que essa pesquisa se junta a outras que vêm tratando os estádios enquanto importantes espaços e equipamentos para as cidades.

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