As Histórias do Futebol Praticado Pelas Mulheres no Brasil: Consciência Histórica de Professores de Educação Física
Por Mateus Camargo Pereira (Autor), Fernanda Moreto Impolcetto (Autor).
Parte de Futebol das Mulheres no Brasil: Emancipação, Resistências e Equidade . páginas 87
Resumo
Introdução
A enorme audiência conquistada pela Copa do Mundo de Futebol Feminino, em 2019, na França, transmitida no Brasil pela Rede Globo e parceiras, deu-se num contexto de ampliação e diversificação da cobertura de diversas mídias, decorrente das exigências da CONMEBOL aos “clubes de camisa” (PEREIRA, 2019). Junto da abordagem de aspectos técnicos e táticos das equipes e jogadoras, destacou-se a trajetória de luta das mulheres pelo direito à prática do futebol. Pesquisadoras e ex-atletas desbravadoras em períodos de proibição (1941-1979) e imediatamente posteriores tornaram visíveis as condições de marginalização da modalidade. Quando liberado pelas autoridades, o futebol de mulheres foi terreno pródigo para a estigmatização das atletas, sem condições satisfatórias para a profissionalização e sofredoras de hostilidades quanto à sua aparência e sexualidade supostamente destoante da heteronormatividade hegemônica (DARIDO, 2002; GOELLNER, 2005). Para compreender de que forma se construiu essa visão sobre o futebol de mulheres é necessário lançar luzes sobre a trajetória de interdições sofridas no Brasil. Tal temática tem ocupado uma série de pesquisadores e pesquisadoras engajados na visibilidade das iniciativas em diferentes tempos: Moura (2003), Mourão e Morel (2005), Franzini (2005), Goellner (2005), Silva (2015), Pinheiro e Lima (2018), Bonfim (2019) entre outros. Nosso foco nesse artigo volta-se para outro objeto de estudo: a mobilização e apropriação do conhecimento histórico sobre o futebol de mulheres. Nessa direção acionamos as elaborações sobre a Didática da História do historiador e filósofo alemão Jorn Rüsen (2001; 2007; 2010), que dedicou especial atenção à formação histórica promovida em museus, pelos meios de comunicação, arquivos, literatura etc., a partir do conceito de Consciência Histórica (CH), enunciada como a “soma das operações mateus camargo pereira e fernanda moreto impolcetto 87 mentais com as quais os homens interpretam sua experiência de evolução no tempo de seu mundo e de si mesmos, de forma tal que possam orientar, intencionalmente, sua vida prática no tempo” (RUSEN, 2001, p. 87). As percepções se manifestam através de Narrativas Históricas nas quais passado, presente e futuro se conectam num raciocínio contínuo. As pessoas experienciam os dados históricos, os interpretam e orientam suas ações sobre determinado tema. Esse movimento de conexão pode assumir quatro formas: Consciência Histórica Tradicional, Exemplar, Crítica e Genética (RUSEN, 2007).