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Em tempos de isolamento e distanciamento social a capacidade de adaptação humana está sendo testada no seu limite. Muitos de nós experimentamos uma espécie de prisão domiciliar, com direito a trabalho remoto, com todas as exigências do presencial. Adaptamos espaços para viver, comer, trabalhar, nos exercitar e com isso tentamos levar a vida para que ela não nos leve.

Ser professora nesses tempos exige muito mais do que ter conhecimento. Catapultados da sala de aula para ambientes virtuais, passamos a mesclar nossa capacidade de comunicação acadêmica, com retoques cênicos e plasticidade tecnológica. A educação precisou se reinventar a toque de caixa e ainda não encontrou a luz no fim do túnel. Mas, o mais importante é que mesmo na escuridão continua a caminhar. Se nos falta a visão em tempos de trevas, nos resta ainda a audição, a fala, o tato e o olfato. E com isso seguimos.

Ou seja, em tempos de crise, mais do que nunca, é preciso reinventar.

Atividades historicamente construídas como presenciais deixaram de acontecer nos últimos meses. Escolas e universidades buscaram se adaptar, não apenas para cumprir seus currículos, mas porque se mostraram indispensáveis à sanidade de estudantes e seus familiares. Isso está dando um trabalho danado para quem efetivamente pensa a educação como algo que vai para além da simples divulgação de conteúdo. 

No campo esportivo a cena é um pouco mais complexa. A exibição de uma competição depende de todo um conjunto de ações anteriores (treinos individuais e coletivos, preparação física, cuidados com o corpo) que ainda não puderam ser substituídas por atividades à distância. Sem contar a importância do público que transforma a competição em um espetáculo. 

Ou seja, nem a educação, nem o esporte, serão os mesmos ao final da pandemia.

Algumas ligas, mundo afora, começam a anunciar o retorno às atividades, com distanciamento, sem público. Tenho lá minhas dúvidas se isso poderia ser chamado de esporte. O que tenho absoluta certeza é que o negócio esportivo começa a se mexer, sabe-se lá em que direção. O argumento parece o mesmo que deseja colocar em atividade outros setores da sociedade que deveriam estar quietos nesse momento, até que as coisas chegassem a um patamar mínimo de normalidade. 

Os negócios começam a voltar, mas ainda não é possível dizer que o esporte voltou. Atletas permanecem em suas casas adaptando treinos e a vida a uma condição nunca antes imaginada. Nunca é demais afirmar a necessidade de preservar a vida antes dos negócios.

Correndo em raia própria o esporte eletrônico passou pelo tsunami e sentiu “apenas” uma marola. Campeonatos seguem, porém, sem os encontros presenciais em estádios e ginásios, como aconteceu nos últimos tempos. Competições com ligas de diferentes níveis conseguem atrair dos usuários especialista aos mais novatos. Isso faz reacender a discussão sobre tornar olímpico ou não os e-sports.

Se antes da pandemia essa era uma questão já descartada das discussões olímpicas ela agora volta à mesa de negociações com todos os afagos de um flerte. Mas, como em todos os namoros onde falta paixão e sobra interesses é possível que uma vez mais, entre tapas e beijos, a relação não avance para além de intenções.

Ensino e esporte colocam à prova as relações humanas. Eles envolvem comunicação, interação e acima de tudo, afeto. Portanto, ensino à distância e esporte à distância podem ser modalidades natas de um período de isolamento, mas terão que se provar humanos o suficiente para sobreviverem a mais do que um mês na berlinda.