Resumo
As transformações sociais e culturais ocorridas no mundo contemporâneo têm posto em questão o próprio sujeito. A identidade do sujeito pós-moderno é entendida como aquela que, segundo Stuart Hall (2006), é construída com base nos discursos históricos e culturais. Esses discursos são refletidos nas práticas escolares por meio do currículo. Assim, o objeto desta pesquisa é o currículo de Educação Física como artefato cultural para a construção das identidades femininas. A pesquisa realizou-se em uma escola pública estadual de Jandira, município da região metropolitana de São Paulo e teve como objetivo investigar o currículo e a construção da identidade feminina durante as aulas de Educação Física de uma turma do 8º ano. Constatou-se que algumas meninas não são incorporadas às aulas de Educação Física, o que levou a indagar por que algumas delas estão de costas . O referencial teórico sustenta-se nos trabalhos de Paulo Freire (1988), Stuart Hall (1997), Henry Giroux (2007), Marcos Neira e Mario Nunes (2009), Tomaz Silva (2001, 2006), Guacira Louro (1995), Michel Foucault (1979) e Zygmunt Bauman (2005) e utilizou-se dos Estudos Culturais para discutir as categorias de currículo, identidade feminina e cultura. Foram adotados como metodologia os procedimentos da etnografia e a proposta de intervenção foi realizada por meio do Círculo de Cultura. Como instrumento para obtenção da coleta de informação, recorreu-se às observações de discursos registros e questionário. Foi possível verificar a construção das identidades femininas nas aulas de Educação Física e a influência do currículo na escola pesquisada e o porquê das meninas estarem costas . Percebe-se que os discursos dos currículos saudáveis e esportivos justificavam e delimitavam as possíveis funções e espaços sociais nos quais o feminino poderia ou não estar presente, além do contexto histórico e cultural da construção das identidades femininas, que influenciaram o discurso curricular e o extremo controle pela disciplina dos alunos, além da falta de diálogo da própria escola. Por conta disso, as meninas da escola pesquisada estavam sendo colocadas de costas (encostadas), oprimidas, tímidas, porém, sonhadoras que anunciavam uns ruídos de ecos pouco ouvidos. Esta pesquisa poderá contribuir com a reflexão sobre práticas educacionais em Educação Física e com as discussões sobre o currículo como artefato cultural para a construção da identidade feminina na escola da rede estadual de educação de São Paulo.