Resumo
Essa dissertação discute a forma como as mulheres árbitras vivenciam a divisão sexual no trabalho de arbitragem em futebol profissional, verificando sua inserção e permanência no campo, sem perder de vista a questão interseccional de raça. Segundo estudos, nota-se um crescimento da presença da mulher no meio futebolístico nas últimas duas décadas, quer seja como jogadora, treinadora, árbitra ou bandeirinha. Especificamente na arbitragem, embora exista uma busca crescente, poucas conseguem avanço e estabilidade na função. Com isso, delimitamos como problema, saber: de que forma as mulheres árbitras de futebol vivenciam a divisão sexual no trabalho de arbitragem profissional? A partir desse contexto, elaboram-se duas grandes questões para o desenrolar da pesquisa: 1) Quais são os critérios de avaliação do perfil físico para alcançar as características e qualidades ideais para se tornar um juiz de futebol? 2) E como estas mulheres conseguiram borrar as fronteiras das relações de gênero/sexo e se tornaram árbitras no futebol? Tendo como objetivo analisar os documentos de arbitragem, identificando nos critérios a divisão sexual neste tipo de ocupação, bem como compreender as histórias de vida das árbitras, escolhemos como metodologia a pesquisa qualitativa descritiva, investigando documentos oficiais de arbitragem e as histórias de vida das árbitras. Nos resultados, constatam-se estratégias androcêntricas no campo, com as barreiras excludentes e limitantes para as mulheres na arbitragem, afetando a sua inclusão e permanência, sendo a maior delas o teste físico sem consideração às diferenças sexuais, utilizados como mecanismo de defesa para o controle sexual neste setor, resultando em prejuízo para as mulheres, embora as barreiras estejam colocadas para além do desempenho físico relacionadas com a política de gênero. Além disso, foi constatada hierarquia regional, resultando na submissão no interior da categoria mulher. Desse modo, a arbitragem, como mercado de trabalho, segue a lógica geral: os homens comandam o campo. O papel de submissão e o rendimento menor estão reservados para as mulheres.