As Propostas de Educação Física nas Conferências Populares da Glória em 1878
Por Felipe Lameu dos Santos (Autor).
Em XX Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte e VII CONICE - CONBRACE
Resumo
INTRODUÇÃO
A ciência era vista pelas camadas letradas da população como veículo responsável pela civilização. Difundir o saber científico era necessário e as conferências públicas foram disseminadas no século XIX com esse intuito (BASTOS, 2003). Dentre elas, as Conferências Populares da Glória foram das mais importantes no Brasil nos anos finais do século XIX.
As Conferências Populares da Glória começaram no ano de 1873 e se estenderam até as primeiras décadas do século XX. Nelas eram discutidos temas diversos, sendo o período de maior número de conferências as décadas de 1870 e 1880: entre 1873 e 1889 ocorreram 596 preleções, proferidas por 145 oradores (CARULA, 2012). Dentre os temas relativos à instrução e formação moral do povo podia-se encontrar a educação física. A educação física foi tratada em duas preleções das Conferências Populares da Glória por seu próprio fundador, Conselheiro Manoel Francisco Correia. Ambas as conferências foram realizadas no ano de 1878. O objetivo deste trabalho é apresentar as propostas contidas nestas duas conferências.
METODOLOGIA
A documentação analisada foi encontrada na Coleção de Conferências e outros trabalhos do Conselheiro Manoel Francisco Correia (1885). Está documentação foi cruzada com a relação de conferências da Glória sistematizadas por Fonseca (1996).
AS CONFERÊNCIAS SOBRE EDUCAÇÃO FÍSICA: A EDUCAÇÃO INTEGRAL HIGIÊNICA
Nas conferências proferidas por Correia, a ginástica era o principal elemento da educação física. Entretanto, isso não significava que ele desconsiderava a amplitude do tema. Segundo ele, a educação física abarcava a vestimenta, a alimentação e o asseio, além da ginástica (CORREIA, 1885a). Essa educação física deveria estar inserida num modelo de educação integral que abarcava a educação intelectual, moral e física. Seu modelo de educação tinha como objetivo regenerar a população brasileira. Para isso, seria necessário ocorrer um equilíbrio entre as três dimensões da educação. Porém, segundo ele, não era o que acontecia no Brasil, principalmente, quando o tema relacionava-se à educação física (CORRERIA, 1885a, p. 253).
Para ele, a educação deveria ser estendida para ambos os sexos sem ser a mesma para ambos. A educação física da mulher e do homem deveriam ser diferentes, pois cada um dos sexos deveria ocupar um lugar na sociedade determinado pela “natureza”. À mulher caberia o papel de ser mãe, ao homem o de ser pai e cidadão. Apenas a ginástica natural deveria ser utilizada para os dois sexos, já os “exercícios especiais” deveriam se ligar aos papéis futuros que ambos deveriam ocupar na sociedade.
Correia argumentava em seu texto que “raças inferiores” contribuíram para a formação do Brasil e que uma raça que convinha à grandeza das riquezas naturais que o Brasil possuía deveria ser formada pela educação em todas as suas dimensões (CORREIA, 1885b). Com esse entendimento, para ele, apesar da constituição racial brasileira, o país poderia ser regenerado pela educação física e intelectual, dando à educação integral papel fundamental na construção da raça e da nação. Para isso acontecer, Correia defendia que a educação deveria ser aplicada desde infância, em todos os seus aspectos, na família, na escola e no colégio, e para ambos os sexos, para que o Brasil pudesse possuir uma raça forte e vigorosa.