Resumo
O poder que circula na relação professor-aluno já vinha merecendo reflexão em estudos que abordam a formação universitária do profissional em Educação Física. Os objetivos propostos para esta pesquisa foram: a) compreender os efeitos das relações de poder que circulam na sistematização do ensino nas disciplinas do Curso de Graduação em Educação Física da Universidade do Estado do Pará, a partir da ótica dos egressos dos anos de 1994, 1996 e 1998; e b) identificar os mecanismos de controle que orientam cada papel na relação professor-aluno, compreendendo os micropoderes a partir do cotidiano vivenciado pelos referidos egressos. A hipótese adotada foi que haveria inicialmente uma tendência a um poder autoritário por parte do professor na relação com o aluno que, com o tempo, deslizaria para um poder distribuído democraticamente entre docentes e discentes. A pesquisa, de cunho qualitativo, foi desenvolvida tendo como ponto de partida um estudo piloto, que possibilitou a elaboração de uma escala de atitudes, a qual, após sua validação por especialistas, foi aplicada a 10% dos alunos que concluíram o curso nos anos de 1994, 1996 e 1998. Os resultados revelaram que o ensino profissional universitário em educação Física, característico de alunos adultos, parece estar necessitando de pessoas que orientem a clientela universitária com mais clareza de propósitos, uma vez que os informantes manifestaram inconsistência em suas respostas, concordando e discordando quanto ás proposições de poder autoritário ou democrático do professor. A variabilidade estatística dos resultados, mostrou que não é possível perceber sob quais tendências esses alunos detectaram os efeitos do poder exercido na relação professor-aluno. Sendo a instituição universitária um exemplo característico e representativo da confrontação de forças em torno do poder, na ótica foucauldiana, onde a possessividade é interpretada como produção e transformação, ela parece se utilizar tanto de um poder funcional, mais racional, com o objetivo da produtividade de formar profissionais da Educação Física que tenham utilidade para a sociedade, quanto de um poder centrado na comunidade dos alunos; isto é , tanto um poder controlador das emoções dos grupos que aí intervêm quanto um poder participativo. Uma das possíveis interpretações para os resultados da pesquisa é o fato de terem ocorrido mudanças no Curso de Educação Física da UEPa no decorrer do período estudado: alteração curricular, aprimoramento da formação dos profissionais e organização estudantil, havendo possibilidade de confronto de opiniões diversas, levando à dispersão das respostas, em função do grupo de professores talvez estar em processo de transformação quanto ao exercício do poder nos processos metodológicos de ensino. Por outro lado, pode-se interpretar que haja igual número de professores universitários no Curso de Educação Física da UEPa com tendências de poder autoritário e outros, mais liberais, que proporcionam mais participação e co-responsabilidade aos alunos. Portanto, em função das limitações da metodologia e da pesquisa ter sido realizada tomando por base apenas a ótica dos ex- alunos, é aconselhável aprofundar os estudos sobre a temática do poder na relação professor-aluno universitário. Também recomenda-se a realização de estudo qualitativo, com caráter etnográfico participativo, com professores e alunos, bem como um estudo que compare as relações de poder entre as diferentes disciplinas de cunho pedagógico, técnico e de aprofundamento.