Resumo

O objetivo geral desta pesquisa é refletir sobre o papel das tecnologias digitais nas escolas do campo no Brasil contemporâneo, buscando constituir referências iniciais para futuras pesquisas sobre o tema na área da Educação do Campo. As abordagens teóricas propostas na pesquisa refletem sobre uma educação do campo pensada também por quem vive nas zonas rurais: camponeses, quilombolas, trabalhadores empobrecidos, que radicalizam suas ações em busca de condições básicas de sobrevivência, terra, teto, saúde, educação. Ao levar em conta esses “outros sujeitos” (ARROYO), a tese não descola a reflexão sobre educação e tecnologias digitais da crítica a toda uma lógica colonialista de mercado e de ciência predominante na sociedade contemporânea. O trabalho se apoia também nos Estudos Pós-coloniais (QUIJANO; SAID; SANTOS; MENESES), em sua crítica ao eurocentrismo nas concepções de ciência, poder e saber, e nas referências da Educação do Campo no Brasil (ARROYO; CALDART; FERNANDES; MUNARIM). Propõem-se condições para políticas públicas de educação e tecnologias digitais que promovam o exercício da cidadania, a partir dos estudos sobre mídia-educação (BONILLA; OLIVEIRA; BUCKINGHAM; FANTIN;GIRARDELLO; OROFINO; JENKINS; KELLNER; SHARE; RIVOLTELLA; SILVERSTONE; ZANCHETTA JR.). A tese se constituiu a partir de dois diferentes conjuntos de evidências: 1) o que faz referência a sujeitos que vivem no campo, atuam ou refletem sobre as escolas do campo. 2) o que faz referência a dois programas de governo para a “inclusão digital” das escolas do campo: Escola Ativa e Pronacampo. No primeiro conjunto reflete-se sobre visitas a escolas do campo no interior das cidades de Blumenau e Brusque (SC) entrevistas formais e informais com professores e funcionários das secretarias de educação daqueles municípios e também de municípios em vários outros estados que participaram dos módulos de formação do programa Escola Ativa e com ativistas, educadores e pesquisadores ligados ao Movimento Sem Terra, à Licenciatura em Educação do Campo (UFSC) e a escolas do campo de Santa Catarina e Paraná. Evidencia-se neste trabalho a importância de uma educação que proporcione aos professores e estudantes momentos de conhecimento e reflexão sobre as mídias e tecnologias digitais, e de que estes se reconheçam enquanto atores críticos em seus contextos. Avalia-se que as escolas do campo, ao tensionar formas hegemônicas de pensar e fazer a educação, tornam-se um espaço privilegiado para novas experimentações pedagógicas. Conclui-se que é importante problematizar o formato e a ideologia das propostas de inserção de tecnologias digitais nas escolas do campo, considerando em que medida elas apenas têm como foco a melhoria da aprendizagem de uma população supostamente carente de saberes, ou se, por outro lado, além de proporcionar o acesso ao conhecimento produzido pela humanidade, elas propõem espaços de comunicação e criação de redes que fortaleçam as reivindicações dos sujeitos do campo.

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