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O “esporte provoca emoções e emoções vendem”, dizem os especialistas em marketing esportivo. Mas, nos bastidores dos negócios & lucros, onde os produtos são jovens atletas rumo ao profissionalismo, o vale-tudo é da pesada. É jogo de espertos, que não pode ser ignorado nas “tragédias” do futebol.

Atraídos pelas possibilidades de fama e dinheiro, os jovens das categorias de base afastam-se cedo de seus lares e se contentam com o mínimo oferecido. São anônimos candidatos a jogador, numa disputa onde poucos se revelam “craques”. Já fomos o país do futebol...

Nesse roteiro, alguns jogadores tornam-se conhecidos no estrangeiro, sem passar por clubes nacionais, enquanto outros viram notícia precocemente por aqui, nas tragédias como a do Ninho do Urubu. Então, os seus nomes são revelados e ganham manchetes, não pela técnica que exibiam, mas pela morte prematura devido à negligência da cartolagem.

O recente incêndio no alojamento no CT do Flamengo é a síntese disso. E alerta como estamos distantes do acompanhamento da formação do que há de mais precioso no esporte, o ser humano.

A realidade nos bastidores desse jogo passa despercebida do torcedor de arquibancada. Atentos à evolução técnica dos garotos do futebol agem espertos caçadores de talentos, os “agentes”. E, apesar da seriedade que tentam transmitir nos seus negócios, “tragédias ocultas” passam também por aí.

Na CPI da CBF Nike, em 2001, foi revelada uma rede de tráfico de jogadores, muitos, menores, saindo do país com idades e passaportes falsos. Hoje, não sabemos se essa prática continua, pois a CBF esconde os dados das transações para o exterior.

A CBF é entidade privada, mas, antes, ela é delegada da Nação e tem o aval do torcedor para organizar (?) o nosso maior patrimônio esportivo. Por isso, temos o direito de cobrar transparência e responsabilidades em seus atos. É possível?

É certo que o artigo 217 da Constituição Federal garante a “autonomia das entidades desportivas”. Mas, “autonomia” não é “soberania”. A CBF não é dona do futebol, mas uma instituição de interesse público que carece de fiscalização constante. Os seus gestores não são confiáveis. Mas quem enfrenta e contesta o poder dessa gente?

No Brasil de 2019, Ruy Castro escreveu que “em meio a tanta morte pode ser um consolo pensar na vida”. Será isso suficiente para as famílias dos que se foram pela omissão e ganância dos cartolas?