Resumo

Por vezes, algumas práticas culturais na internet foram consideradas lícitas ou ilícitas, permitidas ou proibidas, transitando entre o prescrito e o imprevisto conforme os distintos interesses, sendo frequentemente objeto de disputa cultural e envolvendo relações de poder entre diferentes atores sociais como artistas, indústria fonográfica, governos e usuários. Essas disputas podem ser silenciadas ou evidenciadas nos discursos das mídias. Dessa forma, buscou-se investigar como o download de música foi representado nos discursos do portal de notícias G1 entre os anos de 2006 a 2013. Foram reunidas, organizadas e analisadas 713 notícias, com auxílio do programa Nvivo10, segundo seus aspectos políticos, culturais, sociais e econômicos. Nos aspectos políticos, apontamos os processos e condenações de usuários, o fechamento de sites e redes de compartilhamento de música; opinião de artistas e novas legislações. Nos aspectos econômicos, identificamos uma diversificação da oferta de bens e serviços; liberação de música digital gratuita em troca de receitas de publicidade baseado em audiência; incremento dos serviços de música online e a emergência de games musicais. Nos aspectos culturais, destacamos o remix, próprio da cultura digital e o tecnobrega, como outro modelo de produção, circulação e consumo musical, além de apontar articulações, disputas e relações entre o alternativo e o mainstream. Nos aspectos sociais, observamos permanências e rupturas nas teias da reciprocidade e novas formas de interação social pelo interesse musical. Nesse estudo, observou-se que não há uma unanimidade, não há consenso na abordagem política dessa prática, embora a repressão e punição pautem a maior parte das notícias encontradas no G1 e também as ações governamentais que tenderam, quase sempre, a criminalizar a prática de download de música em defesa do interesse econômico das grandes gravadoras em detrimento do interesse e do bem comum. Percebe-se que pouco espaço foi dado aos elementos de contestação ideológica, como iniciativas ciberativistas, em relação à repressão do livre compartilhamento de dados. Neste panorama, o acesso aos bens digitais – que está se tornando cada vez mais propriedade privada – pode representar as novas formas de inclusão e exclusão social em tempos de capitalismo cognitivo. Ainda se aborda o papel do consumo, frequentemente renovado na estruturação de estilos de vida, de perfis identitários e de comunidades de gosto que povoam as variadas redes de comunicação, sociabilidade e negócios que permanecem produzindo temas de investigação bastante produtivos cuja exploração pelos Estudos do Lazer parece inesgotável. 

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