Resumo

A presente tese de doutorado foi desenvolvida com o objetivo de elucidar alguns aspectos relacionados ao efeito da ativação do mecanorreflexo muscular sobre a atividade vagal cardíaca e o fluxo sanguíneo cerebral durante exercício em humanos. Para tanto, foram desenvolvidos três estudos originais sobre esta temática. No primeiro estudo investigamos se as adaptações musculares desencadeadas pelo treinamento físico seriam capazes de influenciar o mecanismo de inibição vagal cardíaca induzida por ativação seletiva do mecanorreflexo muscular. Em uma amostra de nove tenistas e nove controles, a inibição vagal cardíaca foi quantificada a partir das alterações dos intervalos RR conseqüente a movimentação passiva (mecanorreflexo) dos antebraços dominante e nãodominante. Os resultados do primeiro estudo revelaram uma resposta similar dos intervalos RR entre os grupos controle e tenistas, com o membro dominante (Δ 54 ±n20 vs. Δ 77 ± 17 ms, respectivamente, P>0,05). Deste modo, apesar da longa exposição ao treinamento físico do membro dominante dos tenistas, a magnitude da inibição vagal cardíaca induzida pelo mecanorreflexo muscular está preservada. No segundo estudo foi investigado o efeito da massa muscular sobre a resposta da freqüência cardíaca mediada pelo mecanorreflexo muscular ao inicio do exercício dinâmico em humanos. Os resultados demonstraram que movimentos passivos dos quatro membros (i.e., braços e pernas) geram maiores aumentos de freqüência cardíaca quando comparado com o estimulo de apenas um membro (i.e., braço) (Δ 184 ± 24 vs. Δ 110 ± 16 ms, respectivamente, P<0,05). Isso revela que a magnitude da resposta da freqüência cardíaca ao início do exercício é dependente da massa muscular, podendo ser aumentada por mecanismo de somação espacial dosnestímulos aferentes dos mecanorreceptores musculares. No terceiro estudo, tentamos elucidar a participação dos mecanorreceptores musculares na regulação do fluxo sanguíneo na artéria anterior cerebral durante exercício em humanos. A partir da estimulação dos mecanorreceptores, por meio do alongamento passivo e sustentado da musculatura da panturrilha, não houve aumento do fluxo sanguíneo cerebral, apesar do pequeno aumento da pressão arterial média (Δ 3 mm Hg, P<0.05 vs. repouso). Em seguida, utilizamos o paradigma de contrações involuntárias na musculatura da panturrilha induzidas eletricamente para investigar as respostas de fluxo sanguíneo cerebral sem a participação do comando central. Como resultado, observamos a ausência de resposta de fluxo sanguíneo cerebral, muito embora esse paradigma tenha gerado aumentos significativos no débito cardíaco e na pressão arterial. Contrariamente, durante as contrações voluntarias observamos um aumento de 15±2% no fluxo sanguíneo cerebral. Coletivamente, os resultados do terceiro estudo sugerem que o mecanorreflexo muscular possui pouco ou nenhum efeito sobre a regulação do fluxo sanguíneo cerebral. Na realidade, o aumento de fluxo sanguíneo cerebral durante exercício é dependente do componente volitivo (comando central).

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