Integra

INTRODUÇÃO:

Um princípio muito bem conhecido e fundamental do controle motor é a relação inversa entre velocidade e precisão durante um movimento. Paul Fitts descreveu este princípio através de uma equação matemática e foi verificado que o aumento da demanda de precisão leva o indivíduo a processar mais feedback para correções e, com isso, a aumentar o tempo de movimento (TM). Assim, só o TM não consegue predizer os fatores que estão relacionados com este aumento. Por isso, alguns estudos começaram a analisar o efeito da interação entre velocidade e precisão a partir de dados cinemáticos. Tanto os adultos como as crianças seguem o princípio e o tempo para completar a tarefa diminui conforme aumenta a idade. A lei de Fitts foi testada para o controle do movimento com a mão preferida e não-preferida, mostrando que o aumento do índice de dificuldade acarreta um tempo de movimento mais longo e isso é mais acentuado na mão não-preferida. Assim, o objetivo do trabalho foi comparar os perfis cinemáticos, tempo de movimento e tempo pós-pico de velocidade, de movimentos orientados a um alvo espacial realizados com a mão preferida ou não-preferida entre crianças de 5 a 6 anos e de 9 a 10 anos com adultos.

METODOLOGIA:

Participaram do estudo 5 crianças de 5 a 6 anos (M=6,6 ± 0,55 anos), 5 crianças de 9 a 10 anos (M=9,6 ± 0,55 anos) e 7 adultos (M=25,86 ± 2,41 anos). Todos os sujeitos se declararam destros para a escrita e para o desenho e assinaram um formulário de consentimento antes do início dos testes. No caso das crianças, o formulário foi assinado por um responsável. Os sujeitos realizaram tarefas com diferentes índices de dificuldade (IDs = 2, 3, 4, 5 e 6), que consistiram em contatar alternadamente dois alvos espaciais eqüidistantes do centro da tela de um monitor de computador com o cursor do mouse, o mais rapidamente possível, e com o mínimo de erros espaciais. Para a aplicação da tarefa foi utilizado o software Fitts Discrete Aiming Task (v.2.0) e os dados foram adquiridos com freqüência de 100 Hz. Os avaliados receberam informações pertinentes à tarefa e tiveram um período de familiarização. Logo em seguida à prática, foi realizada a avaliação de desempenho, com contrabalançamento na ordem das mãos e das tarefas entre os participantes. Foram realizadas cinco tentativas com cada mão para cada tarefa, com um intervalo de 10 s entre tentativas e de, aproximadamente, 1 min. entre tarefas e entre as mãos.

RESULTADOS:

A análise estatística empregada para cada variável foi uma análise de variância de três fatores, 3 (grupo) X 2 (mão) X 5 (ID), com medidas repetidas nos dois últimos fatores. O nível de significância adotado foi de p<0,05. Os contrastes subseqüentes foram realizados através do teste de Newman-Keuls. A análise de TM mostrou diferenças significativas em todos os fatores principais, bem como em todas as interações. Assim, os resultados mostraram que não houve diferença significativa no TM entre as crianças mais novas em relação às mais velhas, e estas últimas se equipararam aos adultos com a mão direita. O efeito mais importante a ser destacado é a interação entre os três fatores, nos IDs 5 e 6 houve um aumento significativo do TM com a mão esquerda nas crianças, enquanto que com a mão direita o aumento de TM em função de ID é menos evidente. Isso fez com que a assimetria intermanual fosse aumentada nos IDs 5 e 6 nas crianças, enquanto que nos adultos se manteve relativamente estável entre os IDs, mostrando que a maior demanda de precisão com a mão esquerda representa uma dificuldade extra para a criança. Os grupos tenderam a ter tempo pós-pico de velocidade (TPPV) similares em todos os IDs para ambas as mãos, enquanto que verificou-se comportamentos diferentes entre as mãos e entre os IDs.

CONCLUSÕES:

As crianças de 9-10 anos se equipararam aos adultos apenas para mão preferida, provavelmente tal fato tenha ocorrido pela fase de desenvolvimento da criança, que ainda requer o uso demasiado da mão preferida para a realização de tarefas manuais. Assim, os resultados indicam um aumento da assimetria intermanual nas crianças, mas não em adultos, em função do aumento do ID em tarefas requisitando velocidade e precisão. Todos os grupos etários do presente estudo tiveram características semelhantes para o TPPV, apesar das crianças demorarem mais tempo para completar as tarefas. Acredita-se que tal fato tenha ocorrido em virtude das crianças serem mais cautelosas por saberem que são mais precisas quando executam o movimento com menor velocidade. Aparentemente, o uso desta estratégia gera menor variabilidade e possibilita mais ajustes via feedback visual.