Resumo
A Corrida de Rua tem crescido significativamente, no Brasil e no mundo. Esta pesquisa teve por objetivo estudar as variáveis demográficas, antropométricas e de treinamento de corredores de rua recreacionais, que representam a ampla maioria dos participantes de provas de 5 km; 10 km; Meia Maratona e Maratona, de ambos os sexos, assim como investigar associações com a ocorrência de lesões decorrentes da atividade, ao longo da sua prática. Foram utilizados os dados de 1.672 corredores (911 homens e 761 mulheres), adultos (> ou = 18 anos; 41,3±10,7 anos), que responderam, voluntária e anonimamente, a questionário disponibilizado na web. No grupo masculino, Desempenho físico foi o objetivo principal da prática de corrida (29,1% dos homens) e, no feminino, Bem-estar (27,9% das mulheres). Ruas/Parques foi o local predominante de treino para homens e mulheres (69,3% e 69,6%, respectivamente). Homens tiveram tempos médios melhores nas provas informadas. As quilometragens média e máxima semanais, assim como a quilometragem máxima e velocidade média num treino, tiveram frequências relativas em faixas maiores, no grupo masculino. A duração e frequência das sessões de corrida foram semelhantes entre os sexos. Fazer alongamento para treinar/competir (71,1% masculino; 72,4% feminino), independentemente do momento (antes e/ou depois), ou ter treinos isolados para flexibilidade não mostraram associação com redução da ocorrência de lesões. A maioria dos corredores (71,0%) tinha algum tipo de assessoria profissional especializada, com esse grupo mostrando maior frequência de lesão do que aqueles sem nenhuma. Mais da metade (53,9%) dos corredores não realizava nenhum tipo de teste de avaliação aeróbia, mas 92,8% faziam controle da intensidade de treino, com 71,9% sendo pelo "Pace" (minutos/km). Na variável "musculação", o grupo que a praticava (76,4%) apresentou maior associação com a ocorrência de lesão. Naqueles que relataram fazer treino intervalado de corrida (mais de 4/5 dos corredores, em ambos os sexos), 68,7% tiveram lesão, percentual significantemente maior que o grupo que não o realizava. Foram analisados fatores de confusão para estas 3 variáveis: ter assessoria especializada, fazer "musculação" e treino intervalado. Em ambos os sexos, Fascite plantar e Periostite tibial ("canelite") foram as lesões mais citadas, sendo a primeira também a mais assinalada como causa de maior tempo de afastamento de treino e/ou competição. A média de lesões informadas não teve diferença entre os sexos. Maiores volume e intensidade de treino, tempo de prática e distância de prova foram fatores encontrados como associados à maior ocorrência de lesão. Na análise de correlações das variáveis contínuas, houve significância entre: distância de prova com idade e com a média do número de lesões; idade com a média do número de lesões e com o IMC. Na regressão logística multinomial para a ocorrência de lesão, os fatores que se apresentaram como predisponentes foram: quilometragem semanal média; tempo de prática; fazer "musculação"; e desempenho físico como motivo principal desta prática. Feita regressão logística para análise das 10 lesões mais citadas, a variável associada com maior chance desta intercorrência, em todas elas, foi a idade do praticante. Os dados coletados propiciaram traçar um perfil do corredor de rua recreacional, especialmente de seus hábitos e características de treinamento, e investigar lesões decorrentes e associações com variáveis obtidas, tendo ampla participação de praticantes e com abrangência nacional.