Resumo

Crianças prematuras apresentam um desfecho atípico no desenvolvimento motor, no entanto, o risco de atraso e a magnitude do tamanho de efeito dessa associação em diferentes períodos da infância, bem como, os fatores moderadores dessa associação não foram explorados, ainda na literatura, com uso de técnicas de meta-análise e meta-regressão. O objetivo deste estudo foi analisar a associação entre prematuridade e desenvolvimento motor na literatura, avaliar o risco de atraso motor e identificar os potenciais moderadores desta associação durante a infância. Esta pesquisa caracterizou-se como uma revisão sistemática com meta-análise que seguiu os critérios do PRISMA-statement e do MOOSE. A busca foi realizada nas bases de dados online (Embase, PubMed, PsycINFO, Web of Science e SPORTDiscus), em agosto de 2019 e atualizada em outubro de 2020, sem restrição de ano de publicação dos artigos com uso de palavras-chaves em inglês referente a desenvolvimento motor, prematuridade, estudos longitudinais e infância, combinados com operadores boleanos e de truncamento. Adotou-se os seguintes critérios de elegibilidade: estudos longitudinais de coorte prospectivo que acompanharam crianças pré-termo e a termo na infância (zero aos dez anos de idade); estudos que avaliaram o desenvolvimento motor com instrumentos validados; artigos publicados nos idiomas inglês, espanhol e português. Como critérios de exclusão: estudos que acompanharam prematuros de alto risco ou com alguma deficiência. A seleção dos artigos foi realizada por três revisores de forma independente com a leitura dos títulos e resumos, e posteriormente, a leitura completa dos estudos afim de verificar se atendiam os critérios de elegibilidade. Duas meta-análises foram conduzidas. A primeira calculou o risco de atraso no desenvolvimento motor nos diferentes domínios de acordo com os pontos de corte estabelecidos nos estudos (desenvolvimento atípico e típico). A segunda calculou a diferença média padronizada dos diferentes domínios do desenvolvimento motor (total, motor fino e motor grosso) entre prematuros e a termos na avaliação do seguimento. O risco de viés dos estudos individuais foi avaliado por dois revisores, de forma independente, através da escala New-Castle Ottawa (NOS). Foram encontrados 14.182 artigos potencialmente elegíveis, e 41 estudos incluídos na meta-análise. O risco de atraso no desenvolvimento motor total encontrado foi duas vezes maior para crianças prematuras quando comparadas com crianças a termo (aOR=2,25, IC 95% 1,64-3,10 p<0.001, I2= 47,47). O tamanho de efeito da associação entre desenvolvimento motor total e prematuridade foi médio para todas as faixas etárias analisadas 0-12 meses (SMD= -0.60, 95%IC= -0.79, -0.41 p<0,001, I²= 59.61), 13-24 meses (SMD= -0.77, 95%IC= -0.95, -0.58, p<0,001, I²= 73.07) e acima dos 30 meses (SMD= -0.57, 95%IC= -0.91, -0.11, p<0,001, I²= 93.56) com heterogeneidade alta entre 0-24 meses e muito alta acima dos 30 meses. A meta-regressão encontrou um tamanho de efeito grande para idade materna (R²= 0.78). A qualidade dos estudos foi alta md= 7 pontos (4-9) na NOS. Neste sentido, os achados desta revisão demonstram que crianças prematuras possuem maior probabilidade em apresentar atraso no desenvolvimento motor ao longo da infância com tamanho de efeito maior nos primeiros dois anos de vida. Diante disso, avaliar as mudanças no desenvolvimento motor desta população ao longo da infância é fundamental para identificar os atrasos e criar programas de intervenção que promovam a aquisição de habilidades motoras e minimizem as lacunas. Além disso, é preciso ampliar o investimento em pesquisas de coorte com esta temática, principalmente, em países com baixa e média renda

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