Resumo

Câncer é a segunda maior causa de morte no Brasil e no mundo. Esse cenário tende a se agravar devido ao crescimento e envelhecimento populacional e ao aumento da prevalência das causas de câncer na população. Compreender o papel da atividade física na redução do risco de câncer é de grande interesse na literatura epidemiológica. Os objetivos deste estudo foram (i) avaliar a associação entre atividade física e o risco de câncer na população; (ii) estimar a potencial contribuição da atividade física na prevenção e controle do câncer no Brasil. Cinco manuscritos compuseram essa tese. O primeiro apresentou revisão de literatura sobre a consistência da evidência epidemiológica sobre a associação entre atividade física e 22 tipos de câncer. Os resultados indicaram que a atividade física em adultos está associada com menor risco de sete tipos de câncer. No entanto, houve evidência consistente apenas para os cânceres de cólon e mama pós-menopausa. Evidência para outros tipos de câncer apresentou indícios de viés e heterogeneidade na literatura. O segundo manuscrito avaliou a associação entre atividade física durante a adolescência e risco de adenoma colorretal, um precursor de câncer colorretal. Os resultados indicaram que a atividade física durante a adolescência também pode contribuir para menor risco de câncer colorretal, independentemente da atividade física na fase adulta. Mulheres que praticaram mais atividade física na adolescência apresentaram menor risco de adenoma colorretal do que aquelas que praticaram menos atividade física. O terceiro manuscrito investigou a influência do tipo e intensidade da atividade física para redução de biomarcadores inflamatórios e de resposta à insulina relacionados ao risco de câncer. A atividade física foi associada com menor concentração desses biomarcadores. As associações foram mais fortes em participantes que praticaram atividade física aeróbica e de força combinadas. Não houve benefício adicional de atividades físicas de intensidade vigorosa, comparado com atividades moderadas. O quarto e o quinto avaliaram, respectivamente, a preventabilidade de câncer mediante o aumento da atividade física no Brasil; a magnitude dessa preventabilidade vis-à-vis a redução de fatores de risco relacionados ao estilo de vida. Aproximadamente 10 mil casos de câncer (12% dos casos de câncer de mama pós-menopausa e 19% dos casos de câncer de cólon) poderiam ser prevenidos por ano mediante o aumento da atividade física. No entanto, tabagismo ainda é a principal causal de câncer no Brasil, seguido de excesso de peso/obesidade e consumo de álcool. A redução de todos fatores de risco relacionados ao estilo de vida (tabagismo, excesso de peso, consumo de álcool, falta de atividade física, e alimentação não saudável) poderia prevenir até 27% de todos os casos de câncer e 34% de todas as mortes por câncer no Brasil. Em conclusão, atividade física, desde a infância até a fase adulta, pode reduzir o risco de alguns tipos de câncer. Mecanismos biológicos corroboram essas associações e indicam maior benefício para atividades aeróbicas e de força combinadas. Resultados das estimativas de preventabilidade de câncer mediante aumento da atividade física podem ser úteis para estratégias de prevenção e controle do câncer no Brasil

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