Resumo

Introdução: Os baixos níveis de atividade física no lazer e como forma de deslocamento da população adulta brasileira indicam que é premente a necessidade de estudos de avaliação de intervenções que incentivem a adoção da prática regular de atividade física nesses domínios. No Brasil, a atenção básica, devido à sua ampla cobertura de atendimento populacional, apresenta-se como um contexto promissor para o desenvolvimento de ações de atividade física em larga escala. Objetivo: Avaliar e comparar o efeito de intervenções nos níveis de atividade física de adultos saudáveis, usuários do Sistema Único de Saúde e atendidos pela Estratégia Saúde da Família no distrito de Ermelino Matarazzo, região de baixo nível socioeconômico da cidade de São Paulo, SP. Métodos: 157 adultos ( 18 anos de idade) foram alocados em dois grupos de intervenções e um controle: 1) Prática de exercícios físicos supervisionados (n = 54): constou de três sessões semanais, em grupos, de exercícios cardiorrespiratórios, de força e de flexibilidade, orientados por um profissional de Educação Física; 2) Educação em saúde (n = 54): constou de sessões de discussões presenciais em grupos, orientações individuais por telefone, uso de material educativo impresso, envio mensagens semanais de incentivo e vivências buscando o desenvolvimento da autonomia para a prática de atividade física; 3) Controle (n = 49): não recebeu intervenção. O estudo teve duração de 18 meses, divididos em 12 meses de intervenções e seis meses de acompanhamento pós-intervenção. A atividade física foi avaliada por questionários no início, seis, 12 e 18 meses de estudo (expressa em médias de escores anuais e minutos semanais, por grupo) e por acelerometria nos 12 e 18 meses (expressa em médias de minutos diários, por grupo). Os dados foram analisados pelo princípio de intenção de tratar e por meio de equações de estimativas generalizadas. O nível de significância adotado foi de 5 por cento . Resultados: Ambos os grupos de intervenção foram efetivos para aumentar a atividade física no lazer e como deslocamento. Nos 12 meses, o grupo de exercícios físicos supervisionados apresentou maior média de minutos semanais de atividade física de lazer e deslocamento comparada ao grupo controle (diferença média = 72 minutos por semana; IC95 por cento = 5 a 138 minutos por semana) e de escore anual de exercícios físicos comparada às médias dos grupos de educação em saúde (diferença média = 0,5; IC95 por cento = 0,2 a 0,9) e controle (diferença média = 0,7; IC95 por cento = 0,3 a 1,0). Nos seis meses pós-intervenção, o grupo exercício físico supervisionado apresentou maior média do escore anual de exercícios físicos comparada ao grupo controle (diferença média = 0,3; IC95 por cento = 0 a 0,6). No entanto, nos seis meses pós-intervenção, o grupo de exercícios físicos supervisionados reduziu a prática semanal de atividade física de deslocamento (diferença média = -56 minutos por semana; IC95 por cento = -102 a -9 minutos por semana) e o escore anual de exercícios físicos (diferença média = -0,3; IC95 por cento = -0,5 a -0,1), enquanto o grupo de educação em saúde aumentou o escore anual de exercícios físicos (diferença média = 0,2; IC95 por cento = 0,1 a 0,4) e manteve as atividades de deslocamento. Não houve diferenças entre os grupos com relação aos minutos diários de atividade física moderada a vigorosa mensurados por acelerometria nos 12 e nos 18 meses. Conclusão: Ambas as intervenções foram efetivas no aumento da prática de atividade física de lazer e deslocamento no período de 12 meses. Contudo, nos seis meses pós-intervenção, houve redução no nível de atividade física no grupo de exercícios físicos supervisionados e aumento no grupo de educação em saúde, mostrando que esta intervenção foi efetiva quando comparada às classes de exercícios físicos para aumentar e manter os níveis de atividade física de adultos saudáveis que vivem em regiões de baixo nível socioeconômico e são atendidos na atenção básica.

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