Resumo

O diabetes mellitus é uma desordem metabólica caracterizada pelo aumento na concentração sanguínea de glicose. O diabetes mais comum é o tipo 2, cerca de 95% dos casos de diagnóstico da doença, resultante da interação genética e dos fatores de risco, em especial a alimentação inadequada e a inatividade física. O quadro crônico de hiperglicemia pode gerar complicações como aumento da incidência de doenças cardiovasculares, complicações renais e oftalmológicas e lesões em fibras nervosas. Dentre as medidas de tratamento, as mais difundidas são as farmacológicas, no entanto, o exercício físico é visto como uma efetiva estratégia não farmacológica. Ainda não se tem um consenso sobre o melhor tipo de programa de exercícios físicos voltados para esse público. Apesar das evidências apontarem que os exercícios físicos aeróbios de intensidade moderada que, têm sido os mais utilizados em pessoas com diabetes tipo 2, nos últimos anos, têm crescido a prescrição de treinos intervalados de alta intensidade. Os protocolos ainda não são bem definidos e tampouco estão esclarecidos os seus efeitos sobre as complicações do DM2, em especial sobre a modulação autonômica cardíaca em repouso e durante exercício físico. OBJETIVO: Avaliar a modulação autonômica cardíaca e os efeitos de diferentes protocolos de exercícios físicos em adultos diagnosticados com diabetes tipo 2. MÉTODOS: Trata-se de um estudo experimental e conta com dois artigos mostrados na seção “Publicações”. O artigo I, que teve características de um estudo do tipo caso-controle, envolveu noventa e três adultos de meia-idade estratificados em dois grupos: controle (GC, n = 34) e diabéticos (GD, n = 59). Todos os participantes realizaram exames bioquímicos para confirmação do diagnóstico de DM2, coleta dos intervalos R-R para análise da variabilidade da frequência cardíaca, e teste de esforço cardiopulmonar para quantificação da frequência cardíaca de recuperação (FCR). Por fim, no estudo II 44 adultos diabéticos, tempo de diagnóstico > 5 anos, foram recrutados e estratificados em três grupos, de acordo com a intensidade do exercício físico que realizaram, HIIT-30:30 (n=15, idade 59.13 ± 5.57), HIIT-2:2 (n=14, idade 61.20 ± 2.88) e TCMI (n=15, idade 58.50 ± 5.26). Todos foram submetidos à anamnese, avaliação da aptidão cardiorrespiratória e da modulação autonômica cardíaca, e foram submetidos aos programas de exercício físico por oito semanas. Para a análise estatística, nos artigos foram realizados o teste de Shapiro-Wilk para a normalidade e o teste de Levene para a homogeneidade. No artigo I, para a comparação das variáveis, foi usado o Teste T para amostras independentes e a Regressão Linear simples foi utilizada para verificar a relação de predição entre o perfil glicêmico e as variáveis da modulação autonômica cardíaca. E, por fim, no artigo II, a ANOVA one-way foi utilizada para verificar as diferenças entre os grupos na linha de base. A ANOVA two-way no modelo 2x3 foi utilizada para verificar as diferenças entre grupos. Quando essas diferenças foram encontradas, o post-hoc Ryan-Einot-Gabriel-Welsh (REGWQ) foi usado. (A análise estatística foi realizada utilizando-se o programa estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS); Armonk, NY; IBM Corp.), versão 21. p < 0,05 foi considerado significativo em todas as análises. RESULTADOS: No artigo 1, foi encontrado que os pacientes com DM2 apresentaram comprometimento na modulação autonômica cardíaca quando comparados aos indivíduos saudáveis, evidenciando redução na VFC global (SDNN= 19.31±11.72 VS GC 43.09±12.74, p < 0.0001), e também menor modulação parassimpática (RMSSD= 20.49±14.68 VS 52.41±19.50, PNN50= 4.76±10.53 VS 31.24±19.24, 2VD%= 19.97±10.30 VS 28.81±9.77, p < 0.0001 para ambos os índices), além disso os pacientes com DM2 apresentaram lentificação na resposta da frequência cardíaca após a interrupção do exercício físico. Por fim, no artigo 2, propusemos o programa de reabilitação para os pacientes com DM2, foram observadas interações de grupo x tempo para a FCR [F(2,82) = 3,641; p = 0,031] e SDNN [F(2,82) = 3,462; p = 0,036]. Apenas o grupo HIIT-30:30 aumentou significativamente o SDNN, quando comparado aos outros dois grupos (p = 0,002 e 0,025, respectivamente). FCrep reduziu mais no grupo HIIT-30:30 em comparação com o grupo TCMI (p = 0,038). Também foram observadas interações de grupo x tempo para offTAU [F(2,82) = 3,146; p = 0,048] e offTMR [F(2,82) = 4,424; p = 0,015]. CONCLUSÃO: A partir dos resultados encontrados foi possível inferir que os programas de treinamento físico em alta intensidade podem ser ferramentas seguras e efetivas para pacientes com DM2 em diferentes fases de um programa de reabilitação cardíaca, no entanto, é preciso que a equipe conheça e saiba trabalhar com a prescrição destes exercícios, uma vez que neste estudo os protocolos HIIT-2:2 e HIIT-30:30 apresentaram benefícios superiores ao protocolo TCMI que forneceráas equipes multiprofissionais mais uma ferramenta para a melhoria da saúde cardiovascular de seus pacientes.

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