Resumo
A prática do exercício físico regular agrega inúmeros benefícios à saúde, principalmente ao sistema cardiovascular, em que se observa por exemplo o aumento da função contrátil do músculo cardíaco. Porém, a intensidade do exercício pode atuar como um estressor múltiplo, atingindo diretamente o metabolismo energético, oxidativo, neuro-hormonal, térmico e mecânico. Essas alterações resultam na mobilização e ativação de leucócitos, proteínas de fase aguda, bem como alterações na via fibrinolítica e cascata de coagulação. Em resposta às agressões causadas por infecções, respostas inflamatórias e estímulos fisiológicos como o exercício físico agudo, os neutrófilos realizam processo de morte celular chamado netose. Recentemente, a netose foi descrita, a princípio como terceira estratégia (juntamente da fagocitose e degranulação) de morte e controle de patógenos. Sua principal formação são as NETs (neutrophil extracellular traps), que são estruturas em formatos de fios, compostas por material citoplasmático e nuclear que são lançadas de maneira coordenada e programada para o meio extracelular. Considerando que as NETs podem estar envolvidas em efeitos deletérios e fisiológicos em diferentes sistemas, recentemente, trabalho pioneiro indicou que o exercício físico agudo extenuante de natação foi acompanhado por aumento de NETs. No entanto, os efeitos do exercício crônico e agudo em outra modalidade, com utilização de diferentes intensidades no processo da netose ainda não são conhecidos. Assim, este trabalho utilizou quatro protocolos de prescrição de corrida em esteira rolante em ratos, sendo eles: exercício físico agudo (AGUDO), exercício aeróbio (AERO), exercício intervalado de alta intensidade ou High Intensity Interval Training (HIIT), sobretreinamento ou overtraining (OVER) e grupo controle sedentário (SED). O tempo de exposição ao exercício físico foi de três meses para grupos submetidos ao processo de treinamento, com frequência de sessões de cinco vezes por semana. Os controles de intensidade do treinamento foram realizados por meio da velocidade correspondente ao percentual do consume máximo de oxigênio. Nas análises das medidas corporais dos animais, foi encontrada diferença significativa no peso final entre os grupos HIIT e AERO. Em relação ao consumo máximo de oxigênio no final do processo de treinamento, o grupo submetido ao treinamento intervalado de alta intensidade foi maior em comparação aos grupos AERO, AGUDO e SED. Na quantificação das NETs, não foram encontradas diferenças significativas entre os grupos. Como conclusão, o trabalho apresentou alterações de condicionamento físico dos animais condizentes com as expectativas do processo de treinamento, inclusive com modificações funcionais cardíacas. Porém, a prática da corrida, tanto em efeitos agudos como crônicos, não demonstrou diferença na produção de NETs.