Resumo
A creatina (ácido acético α-metilguanidina) é um composto de ocorrência natural que desempenha diversas funções sobre a bioenergética tecidual. Diversos estudos têm demonstrado possíveis efeitos ergogênicos associados à suplementação oral deste composto. Entretanto, existem alguns relatos de efeitos colaterais desta suplementação em tecidos metabolicamente relacionados. Desta forma, o presente objetivou avaliar bioquímicamente e histomorfologicamente as funções renais e hepáticas de ratos Wistar sedentários ou submetidos à natação (80% de carga máxima tolerada, cinco vezes por semana, durante 30 minutos diários) e suplementados com creatina a curto (5g . kg-1 durante uma semana) e a longo prazo (1g . kg-1 durante quatro e oito semanas). Para tanto, as concentrações plasmáticas de alanina aminotransferase (ALT (U/L)), aspartato aminotransferase (AST (U/L)), gama glutamiltransferase (GGT (U/L)), fosfatase alcalina (U/L), lactato desidrogenase (LDH (U/L)), bilirrubinas totais (mg/dl), albumina (g/dl), uréia (mg/dl), creatinina (mg/dl) e creatina quinase (CQ (U/L)), foram mensuradas e correlacionadas com os achados histomorfológicos do rim e fígado. Também foi avaliada a carga máxima suportada (g) durante o teste de carga máxima, bem como as concentrações sanguíneas de glicose (mg/dl) e lactato (mg/dl) pré e pós-teste. Setenta e dois animais (240 ± 10g) foram divididos em quatro grupos (n=18): dieta normal sedentário (CON), dieta com Creatina sedentário (CRE), dieta normal exercitado (NAT), dieta com creatina exercitado (CRE+NAT). Ao final da primeira, quarta e oitava semanas foram sacrificados seis animais de cada grupo e obtidos os seguintes resultados significativos (média ± e.p.m.; p < 0,05 - ANOVA seguido pelo teste TukeyKramer): (1) Elevação sérica de marcadores da função renal após quatro semanas de suplementação em animais do grupo CRE-4 (creatinina: 1,1 ± 0,2 e uréia: 37 ± 3), quando comparamos o grupo CRE-4 com os grupos CON-4 (creatinina: 0,4 ± 0,2 e uréia: 20 ± 2), NAT-4 (creatinina: 0,5 ± 0,2 e uréia: 18 ± 2) e CRE+NAT-4 (creatinina: 0,6 ± 0,1 e uréia: 22 ± 3); Elevação sérica de marcadores da função renal após oito semanas de suplementação em animais do grupo CRE-8 (creatinina: 1,2 ± 0,2 e uréia: 36 ± 8), quando comparamos o grupo CRE-8 com os grupos CON-8 (creatinina: 0,4 ± 0,1 e uréia: 19 ± 1), NAT-8 (creatinina: 0,6 ± 0,1 e uréia: 20 ± 2) e CRE+NAT-8 (creatinina: 0,6 ± 0,2 e uréia: 23 ± 2); Os resultados da função bioquímica renal puderam ser associados com alterações histomorfológicas do parênquima renal condizentes com injúria tecidual após quatro e oito semanas, nos grupos CRE-4 e CRE-8, respectivamente. (2) Elevação sérica de marcadores da função hepática após oito semanas de suplementação em animais do grupo CRE-8 (ALT: 41 ± 7, AST: 89 ± 6, GGT: 8,0 ± 0,9 e fosfatase alcalina: 125 ± 10) quando comparamos o grupo CRE-8 com os grupos CON-8 (ALT: 23 ± 7, AST: 62 ± 5, GGT: 3,9 ± 1,0 e fosfatase alcalina: 67 ± 09), NAT-8 (ALT: 21 ± 8, AST: 71 ± 5, GGT: 4,1 ± 1,0 e fosfatase alcalina: 69 ± 12) e CRE+NAT-8 (ALT: 27 ± 6, AST: 67 ± 7 GGT: 3,9 ± 0,7 e fosfatase alcalina: 75 ± 12). Os resultados da função bioquímica hepática puderam ser associados com alterações histomorfológicas do parênquima hepático condizentes com injúria tecidual no grupo CRE-8; (3) redução dos níveis glicêmicos (pós-teste), do acúmulo de lactato sanguíneo (pós-teste) e incremento da carga máxima tolerada (pós-teste) durante todo o experimento em animais dos grupos CRE+NAT. Os resultados deste estudo apontam: (1) possível nefro e hepatoxicidade tempo-dependente após a suplementação de creatina em animais sedentários; (2) possível efeito ergogênico da creatina se associada à atividade física. Estes achados nos permite concluir que a suplementação de creatina se associada a atividade física, não prejudica as funções renais e hepáticas e incrementa a tolerância ao esforço físico.