Avaliação em Educaçao Física Escolar: Como Anda a Formação do Licenciado?
Por Simone Medeiros de Matos (Autor).
Em IX EnFEFE - Encontro Fluminense de Educação Física Escolar
Integra
Avaliação educacional
A concepção de avaliação vem sendo comumente relacionada à idéia de mensuração. Essa idéia possibilita focalizar as atenções no aspecto quantitativo, gerando logo uma medida. No entanto, a avaliação vai além da medida. Envolve, ainda, os aspectos qualitativos, que são muito mais difíceis de serem avaliados. Luckesi (1998) aborda a prática de conferir o aproveitamento escolar, utilizando como base os conceitos de verificação e avaliação, com expectativa de, ao final, conseguir proveitos para a prática docente. Ao analisarmos, cuidadosamente, os procedimentos utilizados pelos professores, conseguimos identificar se sua avaliação tem um sentido de verificação ou de avaliação.
Na escola de ensino fundamental e médio os professores utilizam como padrão de medida o acerto das questões. Sendo assim, "a medida da aprendizagem do educando corresponde à contagem das respostas corretas emitidas sobre um determinado conteúdo de aprendizagem que se esteja trabalhando" (ibidem, p. 88).
Na realidade, este tipo de avaliação corresponde a um elemento de controle feito por meio de atribuição de conceitos e/ou notas, para que os alunos realizem as tarefas propostas e tenham o comportamento esperado. A nota e/ou conceito, deste modo,passa a representar uma finalidade diferente da representação do verdadeiro rendimento do aluno. Este processo demonstra, em geral, que a escola opera com a verificação e não com a avaliação da aprendizagem. Isso fica claro, quando observamos que os resultados da aprendizagem estabelecem uma classificação do educando, culminando em sua aprovação ou reprovação.
Com isso, podemos considerar que a prática educacional encontra dificuldades em retirar do processo de aferição subsídios para melhorar a qualidade de ensino e o nível de aprendizagem dos educandos. Essas dificuldades acabam corroborando para o desenvolvimento do medo nos educandos, pela constante ameaça da reprovação. Sua utilização, tal como se da na maior parte das escolas, não desenvolve as oportunidades educacionais e sociais. Ao contrário, reduz-se ao significado mais apropriado, à manutenção da hierarquia social
"A aprovação ou reprovação do educando deveria dar-se pela efetiva aprendizagem dos conhecimentos mínimos necessários, com o conseqüente desenvolvimento de habilidades, hábitos e convicções" (ibidem, p. 96-97).
A despeito disso, sob o ponto de vista da aprendizagem, a avaliação demanda uma pedagogia diferenciada, não-tradicional, ou seja, uma prática pedagógica que privilegie o entendimento de cada aluno individualmente. Pois, o uso, na prática pedagógica, de uma avaliação classificatória, desconsiderada o aluno como sujeito humano histórico, ficando para o resto da vida, do ponto de vista do padrão escolar em vigência, estigmatizado, uma vez que os registros permanecerão nos arquivos e nos históricos escolares, que se transformarão em informações legitimamente definidas. Logo, a maneira como o professor avalia é o espelho de sua compreensão de educação.
A avaliação na educação física escolar
Pelo que vimos anteriormente, temos razões para acreditar que muitos professores de educação física escolar não compreendem o sentido da avaliação numa perspectiva progressista, não discutem com seus alunos explicitamente a sua relação com os conteúdos selecionados, não apresentam aos mesmos o caminho que irão percorrer para alcança-los, entre outros problemas. Assim, entre os fatores possivelmente associados ao problema, deparamo-nos com algumas situações: a) nem sempre o professor pensa sobre avaliação, b) a linguagem utilizada nas aulas diferentes daquela utilizada na avaliação, c) inadequação dos instrumentos utilizados para avaliar. Além disso, no momento da elaboração dos instrumentos de avaliação, nem sempre existe a preocupação fundamental de verificar se os objetivos foram atingidos. De tal modo, fica a suspeita se os professores, no seu curso de graduação, receberam informações significativas para a construção de instrumentos de avaliação. A ausência dessas informações possivelmente contribui para a permanência de avaliações tradicionais, freqüentemente encontradas em nossas escolas.
Enquanto em outras disciplinas essas questão parece estar mais esclarecidas, na educação física escolar ainda não temos clareza ao buscarmos definição para algumas questões relativas, por exemplo, aos conteúdos, à avaliação, entre outras. Desse modo, como é realizada a avaliação em educação física escolar? Segundo Soares (1992, p. 99).
"geralmente é feita pela consideração da ‘presença’ em aula, sendo este o único critério de aprovação e reprovação, ou, então, reduzindo-se a medidas de ordem biométrica: peso, altura, etc., bem como de técnicas: execução de gestos técnicos, ‘destrezas motoras’ , ‘qualidades físicas’ , ou, simplesmente, não é realizada".
No entanto, essa prática deve valorizar o aluno a possibilitar que ele cresça, como indivíduo e como integrante de sua sociedade. A avaliação é uma porta por onde se vislumbra toda a educação. Quando o professor se pergunta como quer avaliar, desnuda sua compreensão de escola, de homem e de sociedade. Numa avaliação tradicional há um destaque na atribuição de notas, e na classificação de desempenho. Nela, o mais importante é o produto, ou seja, reflete uma educação baseada na memorização de conteúdos cognitivos ou motores.
Já uma avaliação progressista, fundamenta-se num paradigma crítico e visa o melhoramento da qualidade da educação. Aqui o importante é o processo. Ela reflete um ensino que busca a construção do conhecimento. Para Luckesi (1994, p. 174),
"se está clara a definição do ‘ser que se quer formar’, a avaliação tem por objetivo subsidiar esse esforço. Como processa-la dependerá desse consteúdo, desde que ela não pode existir independente dele. Ela tem sido autoritária exatamente porque tem-se dado de forma desvinculada dos conteúdos pedagógicos".
Freqüentemente, nossa concepção de educação física resumi-se ao que vivenciamos durante nossa infância e/ou adolescência na escola, ou seja, esporte para o rendimento, com aulas que priorizam os habilidosos e deixam os demais alunos sem oportunidades.
Entretanto, ao ingressar em um curso de graduação em educação física, nossa visão sobre essa área de conhecimento vai se alterando.
A preocupação com o tema surge justamente quando não conseguimos encontrar respostas satisfatórias ao tentarmos compreender a finalidade da avaliação a que éramos submetidos ao final de cada bimestre, em educação física escolar, e que ainda hoje encontramos em muitas escolas.
A história nos mostra que a educação física passou por várias tendências, sofreu vários conflitos, mas nunca chegou a uma situação estável, no sentido de ser uma disciplina bem fundamentada e bem estruturada. Segundo Soares (2000, p. 212),
"a educação física, como disciplina do currículo escolar, não tem, portanto, tarefas diferentes do que a escola em geral. Sendo assim, considerações a respeito não podem afasta-la da responsabilidade que a população brasileira exige da escola: ensinar, e ensinar bem".
Neste sentido, não podemos avaliar baseando-nos em um recorte do passado, como por exemplo, exigir a execução de movimentos técnicos como se ainda estivéssemos como se ainda estivéssemos na era tecnicista, onde os comportamentos eram observáveis, e passíveis de mensuração. Pois, se a educação mudou, conseqüentemente a avaliação também.
Talvez a conseqüência mais cruel embutida numa prática avaliativa tradicional, esteja em ignorar a capacidade de aprender do educando. A idéia de educação que origina essa prática desenvolve-se na perspectiva bancária, que compreende o aluno como alguém desinteressado em ir além daquilo que lhe está sendo apresentado. Assim, desconsiderar o papel que a avaliação assume enquanto elemento essencial de um projeto pedagógico, muito tem contribuído para selecionar, retardar, e eliminar o aluno, seja para a série subseqüente, como até mesmo da referente aula.
Assim, a educação, de um modo geral, e a educação física escolar especificamente, são consideradas em nossa sociedade como uma forma de disputa. Contudo, numa perspectiva progressista devemos procurar transmitir uma educação física responsável, que traga consigo subsídios para criação de um projeto mais amplo. Assim, ela assume para si o papel de colaborar para inserção crítica dos sujeitos, na totalidade das relações que se processam na sociedade, reformulando o processo para unir a escola à realidade.
È necessário lembrarmos que este tema não se esgota em si mesmo, sendo ao mesmo tempo complexo e fascinante, servindo como produtor para que os professores de educação física escolar repensem suas práticas e ampliem seus horizontes. Não perdendo de vista que o ato de avaliar guarda em si uma visão de mundo e de homem que se pretende formar.
Obs. A autora, Simone Medeiros de Matos (simone.edf@zipmail.com.br) cursa educação física na U Cat de Petrópolis
Referências bibliográficas
- Luckesi, C. C. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições. 8ª ed. São Paulo: Cortez, 1998.
- ¬¬¬__________ Filosofia da educação. São Paulo: Cortez, 1994.
- Soares, C. L. et all. Metodologia do ensino de educação física. São Paulo: Cortez, 1992.
- ¬¬¬__________ A educação física escolar na perspectiva do século XXI. In: MOREIRA, W. (org.). Educação Física e esportes: perspectiva para o século XXI. 5ª ed. Campinas: Papirus, 2000.