Integra

Em síntese, este instrumento vem tentar mostrar que é preciso ousar, aprofundar os conhecimentos, criticar e ser criticado, compreender e ser compreendido, sair da cadeira de professor espectador para professor ator e autor do seu empreendimento. E é justamente para buscar isto tudo que apresento esta proposta e o relato de minha experiência como uma alternativa a ser discutida e ampliada em prol daquilo que acredito e em benefíco da minha formação. Pois, o professor consciente e comprometido com seu aluno, deve vincular ao processo ensino-aprendizagem, os objetivos pedagógicos não como um fim em si mesmos, mas como algo provisório e cumulativo para novos empreendimentos. Os objetivos devem estar presentes no ponto de partida do processo educacional, para daí, refletir sobre qual é a formação que se pretende que os alunos obtenham, uma vez que não basta somente desenvolver as potencialidades do aluno, mas de prepará-lo para o exercício consciente da sociedade futura em suas relações globais.

Cabe pois, desmistificar o rótulo de que a avaliação é tida somente como prova (medida), que visa disciplinar e controlar o poder exercidado. Assim, é no confronto do diálogo e da troca de argumentos que, sem dúvida, derrubar-se-á as barreiras da hostilidade e do autoritarismo, para se buscar um entendimento e aproximação com essa aluno que anda perdido no contexto educacional, resgatando-o para viver junto com os outros a partir de si mesmo, em comunhão com a redescoberta do prazer de estudar ou de se obter conhecimento como construção de uma riqueza pessoal.

A avaliação, como é vista?

Segundo Philippe Perrenoud em seu livro "Avaliação" (p. 11): "A avaliação é tradicionalmente associada, na escola, à criação de hierarquias de excelência. Os alunos são comparados e depois classificados em virtude de uma norma de excelência, definida no absoluto ou encarnada pelo professor e pelos melhores alunos."

Não se pretende aqui, jogar fora todos os conceitos hierárquicos que serviram e ainda servem até hoje aos paradigmas educacionais, pois só o olhar da avaliação não dá garantias de que o bom resultado forneça a aquisição de saberes e das competências adquiridas.

O marasmo pedagógico

Para a maioria dos alunos, a Escola é inócua. Mas, por que será que a Escola (tanto a pública quanto a privada) têm-se mostrado pouco atrativas para os estudantes? Por que será que os alunos fazem tanta peregrinação de Escola em Escola como se isto fosse uma prática comum para fugir do insucesso, assim como os enfermos fazem de hospital em hospital em busca de um melhor atendimento mais humano e digno? O convívio escolar é por muitas vezes doloroso e deixa marcar que custam a cicatrizar. É verdade que muito se tem discutido, mas no campo de ação, a prática sempre confronta os discursos político-sociais-filosóficos e não chegam a lugar algum. Para se entender melhor todo esse conjunto, é necessário fazer uma viagem por esses campos:

Discurso filosófico

Há uma ligação indubitável da Educação Física com a Filosofia, desde a Grécia Antiga quando sempre se falou em vida teórica, onde tudo foi um "saber". O homem é dependente do homem, porém sua racionalidade dá oportunidade a transcender a todas as circunstâncias. Quando Platão tornou esclarecedor à humanidade toda sua filosofia dualista não foi à toa. É porque bastou lucidez e pronto! Viu-se num emaranhado de perguntas sem respostas. Não precisa ser "pensador" (filósofo), para se ter uma visão crítica da realidade, é preciso pensar, sonhar, reformar e idealizar, pois por mais que se alcance os objetivos, sempre faltará algo e, é assim que vai-se adquirindo novos conhecimentos.

Discurso sociológico:

O fenômeno social acompanha o homem na procura por uma sistematização lógica: indaga, investiga, analisa, pesquisa e critica.
Com o estudo sociológico fica claro a relação da Educação Física com suas transformações existenciais. Em suma, isto pode ser expressado pelo profundo e utótipo desejo de um mundo melhor, conforme Toynbee, in A Sociedade do Futuro, p. 13, citado por Ângelo Longo, diz que "... o homem deveria viver para amar, compreender e criar. O amor é um valor absoluto, aquele que dá significado à vida humana." Graças aos estudos sociológicos, John Loock constatou que o excesso de empirismo é o principal elemento da estagnação social. Pode-se dizer que esse excesso faz do professor um passador de conhecimento alheio, no qual não passa de um "mero instrutor", pois não busca bases científicas.

Discurso pedagógico

Os primeiros movimentos "renovadores" na Educação Física surgiram por volta dos anos 70 e 80 do século passado, juntamente com uma nova concepção de trabalho do "corpo e da mente" e ainda, com bases na Psicomotricidade. A partir daí, a visão dualista incutida na Educação Física tornou-se muito questionada, porém, pode-se verificar e desmascarar que a Educação Física e seus paradigmas, não tratava da formação do indivíduo com objetivos educacionais situados no plano geral da educação integral, pois saciava-se de valores político-capitalistas de interesse alienador, arrastando até alguns professores nessa alienação. A aplicação de conteúdos por conteúdos nos diários de classe, ainda é prática comum, pois não há planejamento cujo os objetivos são perseguidos. E é aí que entra a Psicomotricidade Relacional, que é o elemento que vem resgatar e somar junto à Educação Física os valores perdidos durante a crise de identidade que se estabeleceu, e com isso buscar alcançar um maior sucesso para se desenvolver um trabalho que proporcione aos alunos, melhorar e despertar suas habilidades e competências adormecidas, por falta de objetividade.

Discurso político

Quando se quer realmente mudar alguma coisa, é necessário ter-se vontade política, não a partidária, mas a humanitária, levando-se em conta que é da consciência social, exercida por influências reflexivas e críticas da realidade, que se obtêm os direitos exigidos.
Com essa preocupação, Paulo de Tarso V. Farinatti diz o seguinte: "Não é novidade para ninguém o fato de peridiodicamente servirmos de instrumento de manipulação ideológica por parte de Governos em geral. Isso acontece porque o Estado conhece perfeitamente o poder e fascínio que a atividade física e desportiva podem exercer, sua contribuição na formação de padrões de comportamento e atitudes de uma população - portanto, de grande penetração durante a vida escolar." (SBDEF, p.56). O que de repente pensamos ser certo, na verdade não é, pois em nossa mente se incutiu valores inversos àqueles que normalmente deveríamos considerar ser. Mas graças à Deus existe o conflito, e como diz Apolônio A. do Carmo: "... esta luta interna de idéias tem gerado situações conflitantes e salutares, visto que, a cada momento de crise..." "... nascem novas idéias e tomadas de decisões a nível social."

As diferenças: inclusão x exclusão

Como fazer para acabar com a exclusão? É simples! Basta que haja, além da capacitação que já integra a grade currícular da maioria dos cursos de licenciatura plena em educação física, vontade política dos órgãos competentes, de esclarecer junto a população e inclusive cobrar da classe médica, uma maior percepção e sensibilidade voltada para a idéia de que os "incapacitados" são os que mais precisam da prática da Educação Física adaptada. Educação Física não é só uma disciplina curricular, é um processo de atividade em constante atividade. É justamente esse aluno aparentemente evadido, excluído ou disperso, que é o "objeto" da atual "pseudo-prática avaliativa". Inventam-se para eles: trabalhos, relatórios, dependências, reprovações, tarefas com exercícios práticos, testes físicos, etc.

Tudo isso para atender a demanda de cobrança social-escolar ou simplesmente para "massagear" o ego do professor que não aceita uma alternativa ou não enxerga e não quer nem tentar enxergar, algo bem mais complexo e profundo que os problemas de dificuldade de aprendizagem apresentadas, mascaradas não só por uma inaptidão, mas também por uma inadaptação social ou por disfunção inconsciente do seu meio de vida, talvez, proporcionado, por uma auto-desqualificação devido à sua baixa auto-estima e impotência diante dos fatos marcantes de sua história de vida.

Uma proposta reflexiva

A fundamentação desta proposta não tem nenhuma receita pedagógica específica, mas investiga e segue o conceito de que todo conhecimento é provisório e que a cada tempo desses eventos, a forma de pensar, observar e analisar serão exercidos também de forma inovadora. É significativo tomar e abraçar como fonte de pesquisa esta opção metodológica de avaliação, sob o ponto de vista da dimensão que sua prática porporciona ao aluno, um momento de auto-análise, auto-reflexão ou auto-conhecimento do que ele representa enquanto "corpo" e é capaz ou psicologicamente se acha sobre esse jeito de agir ou interagir no convívio escolar.

Relato de uma experiência no ensino fundamental em educação física e com a parte diversificada (projetos)

Há anos, vinha procurando uma forma menos penoza de avaliar, fugindo ao tradicional. Até o ano passado, variava a distribuição da pontuação conceitual entre a observação direta quanto a participação prática de cada aluno, somados à trabalhos, pesquisas, realização das tarefas nos cadernos ou provas, e as vezes, optava por uma auto-avaliação oral quantitativa. Neste ano, tive a oportunidade de conhecer uma proposta de avaliação contida no Planejamento de Educação Física para as Escolas da Prefeitura Municipal de Teresópolis, através do Colégio que trabalho, o CEDAL, com turmas de 5ª e 6ª séries do Ensino Fundamental. Trata-se de um folheto em que o aluno se auto-avalia, como ficha na próxima página.

Logo que vi não tive dúvidas de aplicá-lo e adotá-lo, inclusive em outros locais, como as turmas 703 e 802 do CEPAVS em Guapimirim, trabalhando com a parte diversificada (projetos). Todos os resultados foram surpreendentes pela veracidade e sinceridade das respostas. Em alguns casos, enfrentei uma guerra de conservadorismo e estou ciente que poderá surgir novas indagações por parte de alguns pais, e principalmente, piadinhas de alguns "colegas", uma vez que a resitência ao novo são transições árduas, para seguir de uma visão apenas formal para uma que alerte e desenvolva o hábito crítico e sadio de perceber-se e perceber o outro.
Com este aprendizado, posso afirmar que os ideais educacionais devem ser ilimitados, porém, fundamentado, para não ser taxado de incompetente, bonzinho ou enrolador.

FICHA DE AUTO-AVALIAÇÃO:
NOME: _______________________________ TURMA: _______ DATA: ___/___/___
PARTICIPAÇÃO: marque apenas uma alternativa
( ) não participo de nenhuma atividade
( ) participo de poucas atividades
( ) participo de metade as atividades
( ) participo de quase todas as atividades
( ) participo de todas as atividades
RELACIONAMENTO: marque as que se identificam com você
( ) aceito o erro do colega com respeito e paciência
( ) incentivo os colegas que apresentam maior dificuldade
( ) dou oportunidade de participação aos meus colegas
( ) reconheço quando estou errado (a)
( ) respeito o professor
Obs. email: valnermarins @ bol.com.br


 Referências bibliográficas:

  • Longo, Ângelo. Sociologia. Rio de Janeiro, 3ª edição, Editora Rio, 1979;
  • Perrenoud, Philippe. Avaliação - Da Excelência das Aprendizagens - Entre Duas Lógicas. Porto Alegre, Artmed Editora, 1999;
  • Carmo, Apolônio Abadio do. Educação Física: Uma Desordem para Manter a Ordem. p. 41 à 46;
  • SBDEF. Pesquisa e Produção do Conhecimento em Educação Física. Editora Ao Livro Técnico, 1991;
  • Planejamento de Educação Física da Rede Municipal de Ensino da Prefeitura Municipal de Teresópolis do ano 2.001;
  • Trindade, Azoilda. Entrevista ao Jornal "O Dia" publicado em 14/03/00.