Resumo

O diabetes está associado a diversas complicações, dentre elas, a neuropatia diabética, que se caracteriza por lesões anatômicas e funcionais dos neurônios autonômicos e somáticos periféricos. Estudos clínicos e experimentais demonstraram que a neuropatia autonômica caracteriza-se, inicialmente, por disfunção do sistema nervoso parassimpático e, posteriormente, do sistema nervoso simpático. O modelo experimental de diabetes mellitus (DM) por estreptozotocina (STZ) tem sido muito utilizado no estudo da neuropatia diabética, bem como suas repercussões sobre o sistema cardiovascular. Estudos demonstraram disfunção autonômica a partir de 5 dias até 80 dias de indução do diabetes por STZ, todavia, poucos estudos na literatura correlacionaram esses prejuízos hemodinâmicos com as alterações morfométricas na inervação autonômica cardíaca no modelo experimental de diabetes.Atualmente, o exercício físico regular, juntamente com a insulinoterapia e o planejamentoalimentar, tem sido considerado como uma das três principais abordagens no tratamento do DM. Os benefícios metabólicos e cardiovasculares induzidos pelo treinamento físico em animais e humanos diabéticos são bastante abordados na literatura. Todavia, os efeitos hemodinâmicos de uma única sessão de exercício nesse modelo experimental de diabetes permanece pouco esclarecido. Nesse sentido, o objetivo do presente trabalho foi avaliar o controle autonômico da freqüência cardíaca (FC) em repouso e durante o exercício físico agudo em ratos diabéticos induzidos por STZ, bem como investigar a morfometria de gânglios parassimpáticos cardíacos. Foram utilizados 18 ratos machos Wistar, pesando entre 200 a 300g divididos em 2 grupos: controles (GC, n=9) e diabéticos (GD, n=9). O diabetes foi induzido por uma única injeção de STZ (50 mg/kg, ev). Vinte e nove dias após a indução do diabetes foi implantada uma cânula na artéria carótida em direção ao ventrículo esquerdo, para registro da pressão arterial (PA) e de uma cânula na veia jugular para administração das drogas. Vinte e quatro horas após a canulação a PA e a FC foram registradas e processadas em um sistema de aquisição de dados (CODAS, 2KHz) no estado basal, após o bloqueio simpático (propranolol, 4mg/kg), após o bloqueio vagal (metilatropina, 3mg/kg) e após o duplo bloqueio em repouso e durante uma sessão de exercício em esteira ergométrica com velocidade progressiva (0.3, 0,6 e 0,9 km/h). No mínimo 24 horas após o exercício agudo os animais de ambos os grupos foram anestesiados com hidrato de cloral e foram perfundidos pelo ventrículo esquerdo com solução fisiológica, e depois com solução fixadora. A seguir, os átrios desses animais foram isolados para análise morfométrica. Os resultados são apresentados como média ± erro padrão das médias. O teste t de Student e o teste de análise de variância (ANOVA) foram devidamente aplicados. Foram considerados significativos valores de p< 0,05. No período de repouso: a) a FC foi menor no GD (297 ± 6 bpm) em relação ao GC (350 ± 9 bpm); b) o diabetes induziu redução da resposta da FC à atropina (375 ± 18 vs. 406 ± 10 bpm no GC); c) a resposta ao propranolol foi semelhante entre os grupos estudados (293 ± 6 vs. 313 ± 5 bpm no GC); a FCI foi menor nos animais diabéticos (329 ± 6 vs. 370 ± 9 bpm no GC). Na situação basal a FC apresentada pelo GD (0,3 km/h: 362 ± 9 vs. bpm no GC; 0,6 km/h: 395 ± 12 vs. 463 ±11 bpm no GC e 0,9 km/h: 433 ± 10 vs. 481 ± 12 bpm no GC) durante o exercício foi menor em todos os estágios em relação ao GC e no período pós-exercício (328 ± 8 vs. 377 ± 11 bpm no GC). A modulação parassimpática da FC mostrou-se prejudicado nos animais GD (0,3 km/h: 319 ± 5 bpm; 0,6 km/h: 330 ± 7 bpm) nas duas primeiras cargas de exercício em relação aos animais GC (0,3 km/h: 357 ± 11 bpm; 0,6 km/h: 376 ± 7 bpm). Não foram encontradas diferenças na FC em vigência da modulação simpática durante o exercício entre os grupos estudados. A FCI foi menor no GD (0,3 km/h: 349 ± 7 bpm; 0,6 km/h: 367 ± 8 bpm) nas velocidades de 0,3 e 0,6 km/h quando comparado ao GC (0,3 km/h: 396 ± 6 bpm; 0,6 km/h: 401 ± 6 bpm). O tônus vagal (TV) foi reduzido no GD em repouso (37 ± 3 bpm) em relação ao GC (61 ± 9 bpm), todavia, não foram observadas diferenças entre estes grupos na execução do exercício. Vale ressaltar, que o TV foi significantemente maior na recuperação no GD (49 ± 6 bpm) em relação ao seu estado de repouso (37 ± 3 bpm). Não foram observadas diferenças no tônus simpático (TS) entre os grupos em nenhum momento do protocolo. O TS foi maior na última carga de exercício em ambos os grupos. Em relação aos resultados morfométricos os animais diabéticos apresentaram menor densidade neuronal (46 ± 7 vs 122 ± 7 neurônios no GC) e menor tamanho de neurônios parassimpáticos cardíacos (208,6 ± 3,5 vs. 318,5 ± 4,5 µm no GC). Os resultados indicam que o diabetes experimental induziu disfunção parassimpática na modulação da FC evidenciada em repouso e pela reduzida retirada vagal durante o exercício. Essas alterações funcionais estão provavelmente associadas à redução na densidade e no tamanho dos neurônios dos gânglios parassimpáticos cardíacos. Esses achados confirmam a neuropatia estrutural e funcional induzido pelo diabetes experimental por STZ. Por fim, vale ressaltar, que uma única sessão de exercício atenuou a disfunção vagal, sugerindo um benefício desta abordagem não-farmacológica no manejo do risco cardiovascular de diabéticos.

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