Resumo
Todo atleta que participa dos Jogos Olímpicos é vinculado a um Comitê Olímpico Nacional. Apesar de algumas conexões, os critérios que definem a nacionalidade esportiva de um competidor não são, necessariamente, os mesmos da nacionalidade estatal. No Brasil, a primazia é pela adoção do critério jus soli, no qual são considerados brasileiros natos todos os nascidos no território nacional. Todavia, a legislação permite em vários casos a concessão de nacionalidade brasileira pelo jus sanguinis, levando em conta a ancestralidade. Há, ainda, a possibilidade de naturalizações. Desde 1920, quando enviou uma delegação pela primeira vez para os Jogos Olímpicos de Verão, até os Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, o Brasil teve 52 atletas nascidos em outros territórios representando o país nas disputas. Este trabalho tem como objetivo apresentar a trajetória destes esportistas e compreender a construção da identificação e da identidade destes atletas. Para tanto, utiliza-se como método as Narrativas Biográficas, desenvolvido pela pesquisadora Katia Rubio e adotado em pesquisas do Grupo de Estudos Olímpicos da Universidade de São Paulo (GEO-USP), pelo qual os textos são construídos com base nas falas dos entrevistados sobre suas vidas. Para a compreensão dos conceitos de identidade, nos apoiamos em teóricos como Stuart Hall e Zygmunt Bauman. Há uma releitura de como o assunto das trocas de nacionalidade esportiva e dos migrantes internacionais no esporte são abordados em outros países, com base em literatura internacional. A partir das falas dos atletas e das discussões teóricas realizadas, foi possível constatar que a trajetória esportiva, em muitos casos, está intimamente ligada à construção identitária dos sujeitos – e que tal construção é individual, sendo fruto de uma série de aspectos. Ao descrever tais trajetórias, é possível notar que a migração de esportistas não é um fenômeno isolado e que está vinculada a outros elementos sociais. Diversos migrantes tiveram um papel importante na introdução, fomento e desenvolvimento de modalidades e entidades esportivas dentro do país, e a participação olímpica de alguns deles reflete tal relevância. Elementos históricos, como as duas grandes guerras mundiais e a Guerra Fria, foram determinantes em alguns processos migratórios. Há casos em que atletas com mais de uma nacionalidade optam pela brasileira por fatores ancestrais e outros nos quais tal escolha representou uma cisão com os antepassados. Apesar do aumento do número de atletas que trocaram de nacionalidade nos últimos anos, é possível constatar que os motivadores para tal procedimento vão além de elementos econômicos e financeiros. Em um mundo onde as fronteiras se tornaram cada vez mais fluídas para pessoas altamente qualificadas, a migração de atletas é uma consequência natural, assim como ocorre com outros profissionais ligados ao esporte, tais como treinadores e agentes esportivos. O foco maior nos atletas deve-se ao caráter de representantes nacionais que eles assumem ao participar de uma competição como os Jogos Olímpicos.