Integra

Há quem não se aperceba do romantismo e simbolismo do teu mister. Veem-te apenas como ensinador de habilidades e técnicas. Não dão conta de que elas são instrumentais de outras destrezas e grandezas. Ensinas a jogar, mas é para driblar, colorir e iluminar a face sombria e taciturna da realidade e inventar novas circunstâncias. Levantas o ânimo, a confiança e o olhar dos alunos para a altura do cesto, da rede e da fasquia; e despertas neles a crença de que as pernas e os braços podem converter-se em asas para sobrevoar o impossível e tocar o mais alto e além. Na natação ensinas a conter a ansiedade e o medo, e a encarar como natural o inabitual. Na ginástica mostras a arte de ajudar; e no futebol a de passar a bola e partilhar o prazer do jogo. Aos que ficam no banco ensinas a não desistir e a entendê-lo como estação da aprendizagem do saber aguardar a entrada em cena. Na vitória apresentas a justa medida da alegria com elegância e moderação; e na derrota apelas a sublimar, com a admiração do mérito alheio, o desgosto de perder. No treino muscular realças a importância da força, por não se destinar a ser usada contra ninguém; a nobreza do carácter consiste em ser superior a si mesmo e aos instintos. Na corrida cultivas a prontidão, a disponibilidade e velocidade para escapar do mal e seguir atrás do bem. Sobretudo és sacerdote do cuidado do corpo, do dever de o amar e valorar como honrado fiador da vida. Cada um vale muito mais do que pesa; mora nele, por fora e por dentro, uma pessoa insubstituível. Esguios, curvados, gordos ou magros, todos os corpos têm direito à consideração; não menos do que isso lhes é devido.

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