Resumo

A presente pesquisa em nível de doutorado objetivou compreender como as brincadeiras e a educação do corpo são vivenciadas pelas crianças na escola, na contemporaneidade. Fundamentou-se na Sociologia da Infância, com base em Sarmento e Gouvea (2008), Corsaro (2011) e Sarmento (2014). A partir dessa perspectiva, as crianças são compreendidas como atores sociais ativos, de pleno direito, com capacidade de interagir com o ambiente onde estão inseridas e de atribuir sentido às suas ações. Os principais conceitos abordados foram: crianças – atores sociais e produtoras de cultura; infância – categoria social construída historicamente (ARIÈS, 1981; SARMENTO; PINTO, 1997; SARMENTO, 2004; COHN, 2005; FERREIRA, 2008, QVORTRUP, 2010); culturas infantis e brincadeiras – sistemas simbólicos (WINNICOTT, 1975; HUIZINGA, 1980; BROUGÈRE, 1998, 2016; FERREIRA, 2002; FERNANDES, 2004; COHN, 2005; KISHIMOTO, 2010, 2016) e educação do corpo – relação entre corpo e educação (SOARES, 2014). Como perspectiva teórico-metodológica situou-se na pesquisa etnográfica com crianças (JAMES; PROUT, 1997; GRAUE; WALSH, 2003). Ocorreu por um período de oito meses na Escola Classe Arniqueira, escola pública de Brasília, com a participação de 29 crianças do 1º ano do Ensino Fundamental, com idades entre 6 e 7 anos. O trabalho de campo foi mediado por observação participante, diário, fotografias, filmagens, desenhos, conversas com crianças e questionário. A análise originou-se do registro detalhado do fenômeno observado, numa perspectiva social e com base em referenciais teóricos interdisciplinares. Os dados produzidos no campo foram organizados em duas categorias: inventário das brincadeiras e corpo e educação. A partir do inventário, as brincadeiras foram classificadas como tradicionais e inventadas. Essas brincadeiras, além de fazerem parte do universo das crianças e das culturas infantis, ainda prevalecem no ambiente escolar. Evidenciou-se que as brincadeiras mais recorrentes foram as brincadeiras tradicionais que envolvem corrida, seguidas das inventadas que abarcam a imaginação e são interpretadas como situações reais. Destacou-se que as crianças aspiram tempos e espaços para as brincadeiras e evidenciam ações sociais e relações de poder, por meio do corpo nas interações entre pares, durante as brincadeiras. Conclui-se que nas brincadeiras o corpo integra-se ao processo educativo, à medida que evidencia maneiras de ser, pensar e agir de uma sociedade, ao tempo em que viabiliza a atuação social das crianças. Como principal desafio, saliento o despertar de um olhar e uma escuta sensível às crianças na escola, de modo a reconhecer seu protagonismo e a respeitá-las como atores sociais, capazes de construírem conhecimento. Esta pesquisa pode contribuir para refletir sobre as brincadeiras e a educação do corpo como possibilidade de ação social das crianças nos tempos e espaços da escola, além de evidenciar seus interesses e perspectivas do brincar.

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