Resumo
A presente pesquisa, em nível de mestrado, objetivou analisar, de modo comparativo, percepções de crianças, inseridas em instituições educacionais diferentes, acerca de suas brincadeiras. Para tanto, selecionou-se uma Escola Classe, Brasília, Brasil e a Escola da Ponte, Porto, Portugal. Na escola brasileira, foram selecionadas 25 crianças do 5º ano e, na escola lusitana, 21 crianças de todos os núcleos escolares. Realizou-se observação participante, recolha de desenhos e de relatos das crianças. A análise das informações foi orientada pelo modelo elaborado por Bereday (1972). Na Escola Classe, as percepções das crianças acerca de suas brincadeiras indicaram, com maior ênfase, que estas práticas são desenvolvidas considerando exercício da autonomia, fuga do ambiente da sala de aula, bem como aspectos de socialização. Por sua vez, na Escola da Ponte a maioria das crianças justificou suas brincadeiras favoritas com base em aspectos sociais destas. Nessa escola, nenhuma criança justificou suas brincadeiras favoritas em vista da autonomia ou fuga do ambiente onde as atividades pedagógicas são desenvolvidas, o que parece estar diretamente relacionado às características pedagógicas renovadoras da Escola da Ponte. Apesar de a autonomia das crianças não ser irrestrita (MONTANDON; LONGCHAMP, 2007; MÜLLER, 2007) as escolas devem fomentar tempos e espaços nos quais as crianças possam desenvolver tal autonomia. Conclui-se que, a depender do contexto escolar, as instituições podem apresentar elementos que restringem ou promovem diversificadas facetas do brincar. Em adição, destacamos que, mesmo perante restrições do contexto escolar, observamos em ambas as escolas que as crianças apresentaram mecanismos de ressignificação e subversão.