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Este trabalho é um relato de experiência de um jogo realizado nas dependências da Escola Estadual Nilo Peçanha - São Gonçalo- R.J referente a disciplina de educação física no 1º ano do ensino médio, horário matinal, com uma turma de 40 alunos.

O jogo é comumente conhecido como "Caça ao Tesouro" e por suas características internas, como a necessidade de grande espaço de execução e liberdade de movimentação, ele é geralmente praticado em momentos de lazer.

Neste sentido, este jogo só pode ter sido realizado com total apoio da direção da escola que permitiu a movimentação dos alunos, em horário de aula, pelas dependências da escola, como: biblioteca, refeitório, sala da direção, sala da banda, corredores de outras turmas, etc.

O jogo foi realizado dentro da perspectiva da cultura corporal de movimento, utilizando-se a prática de jogos como conteúdo escolar valorizando a transmissão e perpetuação destes jogos para a faixa etária entre 13-16 anos e o debate da cultura dos mesmos; a vivência da ludicidade no espaço escolar; a desmistificação do espaço escolar; a prática da convivência; a integração entre os mesmos e a possibilidade da reflexão sobre os valores como ajuda mútua, corrupção, desejos, ganância, fraternidade, etc.

Destacaremos na seção abaixo destacaremos a relação do jogo com a cultura corporal de movimento.

O jogo no contexto da educação física

Na perspectiva da cultura corporal de movimento, um dos objetos de saber da educação física, se faz mister que a educação física escolar desenvolva suas aulas baseadas em determinados conteúdos culturais, historicamente construídos, influenciados pelo tempo e pelas pessoas, como o jogo, a brincadeira, o esporte, a luta, a dança e a ginástica. (COLETIVO DE AUTORES, 1990).

Um dos pontos importantes desta perspectiva é contribuir para a formação de um cidadão autônomo, crítico e criativo, dando-lhe ferramentas para que possa participar, intervir e comprometer-se com a construção de uma sociedade mais justa, igualitária e democrática, valorizando sentimentos de solidariedade, como: lealdade, trabalho em equipe e criatividade.

Dentro deste universo de práticas culturais, nos baseamos no uso do jogo como conteúdo da educação física escolar

Os jogos são manifestações culturais que são construídos e reconstruídos pelos diferentes povos dentro de suas dinâmicas internas e que sofrem metamorfoses provenientes dos contatos estabelecidos com outras culturas.

Estes são uma forma de comunicação com o mundo, construtor e constituinte da cultura. (BRACHT, 1997). O jogo é uma linguaguem simbólica que possibilita o partilhar de experiências, de crenças e de concepções construídas em contextos e processos sócio-históricos específicos. Quando se joga cria-se um espaço social regado de símbolos provenientes do entendimento que as pessoas possuem do seu mundo real. Joga-se com os objetos que só possuirão sentidos dados à eles dentre deste tempo e espaço diferente da realidade.

Neste contexto, o jogo é um modo lúdico de dialogar com as possibilidades do cotidiano dentro do plano da fantasia, estabelecendo pontes de contato entre o que se pensa e o que se pode fazer, estimulando a prática das condutas sociais e a reflexão de suas visões de mundo.

A partir de um número grande de jogos, escolhemos um que pudesse ser realizado fora da quadra ( a nossa estava em obra) e que possibilitasse a vivência da reflexão deste conteúdo da cultura corporal de movimento: O jogo caça ao tesouro.

Como fora realizado o jogo? É o que veremos a seguir.

O caça ao tesouro: sua construção pedagógica e aplicação na turma

A idéia de aplicar este tipo de atividade dentro do espaço físico escolar veio através da realização de um jogo anterior, com a mesma turma, chamado: pique esconde. Vimos que houve sucesso, os alunos participaram, de maneira alegre, com certa liberdade e muito a vontade nas dependências da escola. Dias depois, veio-nos a idéia de proporcioná-los a prática de um jogo não muito comum nas escolas e que poderia ser de alcance dos adolescentes, estimulando a criatividade, o trabalho em grupo, a ludicidade, etc.

Ao lançar a proposta para a turma, sobre este tipo de atividade, eles à princípio não entenderam como iria funcionar, se seria divertido ou não ficar correndo pelas dependências da escola, na hora, por exemplo do recreio de outras turmas, com a preocupação, de como eles dizem, de "pagar mico". Através do diálogo, a turma aceitou o desafio e partimos para a realização da "Caça ao tesouro" . Mas o que significa este jogo?

Na "Caça ao tesouro" os participantes estarão divididos em grupos. Cada grupo receberá uma primeira pista que conterá um enigma.
Esse enigma indicará um próximo local onde estará escondida a próxima pista. Depois de decifrada o primeiro enigma, os participantes irão em busca da próxima e assim sucessivamente, até que último enigma levará ao local do tesouro. O tesouro, por sua vez, também deverá estar escondido nos parâmetros do local indicado pelas pistas. O vencedor será o grupo que encontrar o tesouro e o prêmio será o próprio tesouro, que poderá ser formado por balas, bombons, pequenos brindes, etc. (CAVALLARI e ZACHARIAS, 2001)

O trabalho pedagógico desenvolvido com os alunos foi organizado baseando-se em cinco fases:

1ª fase: Confecção do material

Compramos o material para a confecção das pistas (cartolina das cores amarelo, verde, azul, branco, rosa, envelopes ( 9 para cada grupo) e cola; montamos as pistas (em torno de 9), baseando-nos em fatos atuais e de conhecimento dos adolescentes e que passo a passo levasse a descoberta da palavra que era o enigma, e as colocamos dentro do envelopes. Na frente de cada envelope havia um círculo feito de cartolina com a cor do grupo. Ex: o grupo amarelo teria 9 envelopes com as suas pistas.

2ª fase: Escolha dos grupos e apresentação do jogo

Escolha dos grupos e suas cores; escolha dos alunos ajudantes que ficariam em cada estação onde estariam as pistas escondidas por eles próprios e a explicação para a turma do que seria o jogo "Caça ao tesouro".

Dividimos os alunos em cinco grupos, cada qual designado por uma cor: amarelo, azul, verde, rosa e branco. A escolha dos membros do grupo foi realizada entre eles, provavelmente por afinidade, mistos ou de mesmo sexo. Foi dado aos ajudantes as pistas que eles deveriam esconder, o lugar onde eles deveriam esconder e orientações com relação a organização da atividade e de que maneira eles poderiam ajudar para o bom andamento do jogo. Ex: O aluno X ficara com as pistas nº oito de todos os grupos, escondendo-as no refeitório de maneira que os grupos tivessem que procurar. Caso algum grupo demorasse muito para achar, instruímo-los de ajudarem dizendo: "tá quente, tá frio". Não poderiam entregar a pista ao grupo e nem ajudar mais ou menos um determinado grupo.

3ª fase: Aplicação do jogo.

Cada grupo procurou na sala de aula a primeira pista que já fora previamente escondida. A pista deveria possuir uma pergunta e a resposta desta indicava uma das letras da palavra do enigma. As letras conseguidas com as respostas poderiam ser anotadas pelo grupo ou memorizadas. Além das perguntas, também poderia-se fazer, em cada envelope, uma tarefa que o grupo deveria cumprir, para ter permissão de ir à procura de outra pista. EX: jogo dos sete erros.

Ao encontrar todas as pistas, responder as perguntas, participar das tarefas, o grupo chegou a sala de aula com a palavra enigma, e por último deveria fazer a tarefa final " cantar com todo o grupo uma música na qual a palavra aparecesse, e por fim encontrar o seu tesouro.

Todos os grupos tiveram tesouros a encontrar (balas e bombons que deveriam ser repartidos), do primeiro ao último colocado.

4ª fase: Confecção da " caça ao tesouro" pelos alunos

Em outro dia de aula, houve continuidade do jogo, comentando os aspectos positivos e negativos que aconteceram no decorrer do jogo, como por exemplo: as fraudes, as tarefas mais complexas, o trabalho dos grupos. Solicitamos que cada grupo criasse o seu "Caça ao tesouro" e posteriormente, faríamos uma avaliação para escolher o jogo mais criativo e adequado à faixa etária deles, com tarefas e perguntas nos quais todos pudessem ter acesso.

Convidamos um aluno de cada equipe para fazer parte da comissão que iria escolher o jogo mais criativo e interessante a ser desenvolvido.

5ª fase: aplicação do jogo pelo grupo que o criou.

Apresentamos à turma o grupo vencedor e comentamos os "caça ao tesouro" de todos os grupos, indicando os erros e os acertos. Foi dado a incumbência da organização e aplicação do jogo ao grupo que fora escolhido. Todos participaram do jogo promovido pelo grupo de alunos, com nosso apoio.

Considerações finais

Foi uma experiência inovadora para nós e acreditamos que para muitos professores de educação física, por isso nos incentivou a mostrar-lhes um pouco da nossa prática profissional. Há uma imagem historicamente construída de que o professor deve majoritariamente dar aulas em quadras e também a dificuldade que as escolas possuem de aceitar o barulho que fazemos, achando que quase tudo é "bagunça".

Felizmente encontramos uma direção que apoiou o barulho e uma certa liberdade de movimentação dos alunos na escola ( fato não muito comum) e pudemos dar mais uma possibilidade dos jovens perceberem que a liberdade pode ser desejada e conquistada, se houver a prática da responsabilidade e do respeito entre todos.

A autora, Ingrid Ferreira Fonseca é Mestre em Educação Física

Referências bibliográficas

  •  Bracht, Valter. Educação física: conhecimento e especificidade. In: VAGO, Tarcísio Mauro e SOUSA, Eustáquia Salvadora. Trilhas e partilhas- educação física na cultura escolar e nas práticas sociais. Belo Horizonte: Editora cultura, 1997.
  • Cavallari, Vinícius Ricardo e ZACHARIAS, Vany. Trabalhando com a recreação. São Paulo: Ícone, 2001.
  • Coletivo de autores. Metodologia do ensino de educação física. São Paulo: Cortez, 1990.