Resumo

A cafeína é usada em diferentes modalidades esportivas de endurance, com eficácia comprovada em potencializar o desempenho físico a depender da dose administrada, tempo de ação e modelo de exercício utilizado. Importante, tem sido sugerido que a expectativa individual em relação ao potencial efeito ergogênico da cafeína também pode interferir na sua eficácia em melhorar o desempenho de endurance, embora essa relação tenha sido muito pouco explorada. O objetivo do presente estudo foi investigar se a expectativa prévia em relação aos efeitos ergogênicos da cafeína teriam influência no grau de melhora no desempenho físico em teste de ciclismo contrarrelógio de 4Km (CR4Km). A confiabilidade do efeito ergogênico da cafeína também foi avaliada.

Métodos: Ciclistas treinados (n=12) realizaram duas visitas preliminares de familiarização com o CR4Km, e três sessões experimentais sendo duas com suplementação de 5mg/Kg de cafeína (CAFI e CAFII) e uma com placebo, em ordem balanceada. As visitas experimentais contaram com um CR4Km sem suplementação (baseline) e dois CR4Km (TS1 e TS2), um 45min após a ingestão de cafeína e outro 30min após o primeiro CR4Km suplementado. Os participantes responderam a um questionário semiestruturado (CaffEQ-BR) no início de cada sessão para quantificar o grau de expectativa sobre a melhora do desempenho com cafeína. O desempenho com suplementação foi calculado pelo delta de alteração em relação ao baseline comparado por meio de modelos mistos para medidas repetidas. A confiabilidade relativa do tempo de prova no CR4km (intra e entre sessões) foi analisada pelo coeficiente de correlação intraclasse (CCI), enquanto a confiabilidade absoluta foi estimada pelo erro padrão da medida (EPM). A relação entre expectativa e desempenho foi calculada pelo r de Pearson. Significância de 5% foi adotada nas análises, com valores reportados como média (± desvio padrão).

Resultados: A expectativa não apresentou correlação significante com a performance nos CR4Km suplementados, mesmo quando considerada a correlação parcial (r ≤ 0,3; Fraca em todas as comparações). O tempo de prova nas sessões CAFI e CAFII diminuiu em relação ao placebo para TS1 (1,8% e 0,5%) e TS2 (0,5% e 0,5%), com diferenças significantes pontuais (p=0,48 e 0,92, respectivamente). A confiabilidade relativa entre sessões foi de 0,75 e 0,87 para TS1 e TS2, com erro padrão de 13s e 9,7s. Na comparação intrasessão, o CCI foi de 0,78 para CAFI e 0,97 para CAFII, com EPM de 14,7s e 6,8s.

Conclusão: Os resultados deste estudo sugerem que a expectativa prévia em relação à eficácia da cafeína não influenciou na melhora da performance de endurance em CR4Km com suplementação de cafeína. Os resultados também mostram níveis elevados de confiabilidade da suplementação com cafeína.