Campanha Pela Implantação da Educação Física (10/11/2008)
Integra
Queridos amigos: às vezes, para defender a implantação da Educação Física, temos que nos defender dos ataques que transformam a Educação Física em uma disciplina menor. A carta que vai transcrita adiante eu a escrevi para a Profa. Andréa, que tem me dado a honra de dialogar comigo no Centro Esportivo Virtual.
Andréa:
Eu sempre lembro às pessoas a obra do Laércio Elias Pereira. Criar o CEV significou estabelecer uma reserva de dignidade na Educação Física. Por aqui circulam pessoas que dignificam nossa profissão, e são muitas. Assisto, hoje, com pesar, um processo crescente de degradação da Educação Física, promovida pelos cursos de pós-graduação. Chega a ser vergonhoso ser professor de Educação Física nesses cursos. Como incluir no relatório Capes esse título: “Professor de Educação Física”? Status tem quem é engenheiro, bioquímico, fisiologista, biomecânico, antropólogo, etc. Dar aulas não dá pontos. Quando Jacques Derrida faleceu, deixou-nos como herança um patrimônio a favor da dignidade humana. Sobre a Universidade, ele escreveu: “Sabemos muito bem que essa Universidade incondicional não existe, de fato. mas em princípio, e conforme sua vocação declarada, em virtude de sua essência professada, ela deveria permanecer como um derradeiro lugar de resistência crítica - e mais que crítica - a todos os poderes de apropriação dogmáticos e injustos.” (A Universidade sem condição, Editora Estação Liberdade, p. 16). Derrida distinguia a Universidade “…de todas as instituições de pesquisa que estão a serviço de finalidades e de interesses de todo tipo, sem disporem da independência de princípio da Universidade.” p. 20. Mais adiante ele adverte: “Sim, ela se rende, às vezes se vende, arrisca-se a servir simplesmente para ocupar, tomar, comprar, prestar a se tornar uma sucursal de conglomerados e de firmas internacionais.” p. 21.
Sabe Andréa, colegas nossos, que vivem repetindo que “A Capes somos nós (eles se referem a todos os professores de pós-graduação em Ed.Física do Brasil)”, deveriam dizer apenas: “A Capes somos nós que nos deixamos cooptar.” Eu, João Batista Freire, não sou a Capes; eu sou aquele que resiste às investidas do governo de monitorar a Universidade através da Capes. Eu sou aquele que não se deixou cooptar. Eu sou aquele que não tem vergonha de dizer que é professor de Educação Física. Eu sou aquele que, mesmo não publicando internacionalmente, mesmo não tendo a mesma pontuação que os engenheiros da Educação Física, que os fisiologistas ou os biomecânicos, sabe que é quem faz a Educação Física. Eu sou aquele que não precisa dos pontos da Capes para ser reconhecido pela comunidade da Educação Física, essa sim, aquela que faz a avaliação que vale.
Portanto, Andréa, prefiro a sua companhia, a do Sabino, a do Lino, a do Laércio, a dos milhars de professores de Educação Física da rede de ensino à meia dúzia de avaliadores cooptados pela Capes, aos quais não reconheço competência para me avaliar. Um dia a história julgará o processo de degradação da Educação Física que eles promoveram. Olha Andréa, é, para mim, um tanto óbvio que não somos da área da Saúde. Temos ligações com a saúde, mas somos da área de Humanidades. Nunca deveríamos aceitar o jugo da Medicina sobre nós. Educação Física é aquela disciplina que educa corporalmente as pessoas, aquela que ensina que somos corpo.
Um grande abraço. João Batista Freire
Publicado em 10.11.2008. 1 Comentário
Por João Freire