Resumo

O presente trabalho trata-se de uma pesquisa qualitativa com base em estudo
histórico e antropológico que teve como objetivo analisar o processo de
atuação legitimada da Capoeira na década de 1920-30, em meio à sociedade
baiana. Partiu-se da análise de fontes bibliográficas e documentais diversas
sobre fatores históricos, sociais e culturais formadores do eixo principal da
"Tradição da Capoeiragem baiana", buscando o exercício crítico necessário
para compreender os diversos mecanismos e estratégias de resistência
cultural e afirmação política utilizados pelas instituições negras da Bahia
durante esse período. O estudo destaca que trilhando esses caminhos,
burlando a lei, resistindo como manifestação cultural e possibilitando-se
como ofício - fossem aulas, competições ou demonstrações -, a Capoeira
come çou a chama r a at enç ão da s a u tor idade s da époc a , de forma
diferenciada do que acontecia no final do século XIX e começo do século
XX. Acabando por se firmar como experiência educacional, desenvolvida
por meio da cultura popular e de seus agentes formadores. Assim, na década
de trinta, seguindo os interesses de sua política populista e nacionalista e
servindo diretamente aos ideais da retórica do corpo, Getúlio Vargas legitima
a prática da Capoeira em recintos fechados, garantindo, por outro lado, um
controle sobre os Capoeiras. No entanto, sob outra perspectiva, a do
interesse do povo negro sobre os rumos dessa história, aconteceria agora,
uma mudança de estratégia, mas a norma geral ainda era a mesma: resistir.
Envolvidos na trama política os negros participavam atentos ao jogo de
interesses e às ambigüidades próprias dessa trama. Desconfiados e
prevenidos, tinham treino histórico para descobrir as "minas malocadas"
por trás das permissões e liberações governamentais e, com sagacidade,
sabiam reverter as expectativas desfavoráveis. Em meio ao processo de
institucionalização da Capoeira traçam-se duas posturas diferenciadas
representadas pelos dois estilos existentes na tradição baiana de então: a
Regional e a Angola, Mestre Bimba e Mestre Pastinha. Posturas que apesar
de objetivarem o mesmo intuito - elevar a Capoeira a símbolo cultural
brasileiro, valorizando suas raízes formadoras -, seguiram caminhos
diferentes para isso. Esses dois mestres iriam delinear as estratégias de
resistência da Capoeira enquanto "herança de um povo", para aqueles novos
tempos que se apresentavam com a legalização.

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