Integra

O processo de desportivização da Capoeira é um fenômeno recente, e a sua afirmação enquanto modalidade desportiva de luta ainda é imatura, tanto pelo formato de seus regulamentos técnicos quanto pela inexpressiva atuação dos intervenientes humanos na questão desportiva. Todavia, os discursos dos principais protagonistas do meio desportivo capoeirístico considera fundamental, desde a data da oficialização da sua faceta desportiva, a consecução da sua afirmação olímpica no contexto internacional. No cenário nacional e a partir da consolidação do órgão dirigente desta modalidade, constatamos a ocorrência do reconhecimento da Capoeira como modalidade desportiva pelo Comitê Olímpico Brasileiro, fato este aproveitado no período por sua classe dirigente, com vistas à preservação do poder através do aliciamento dos praticantes através de discursos falaciosos de introdução da Capoeira nos Jogos Olímpícos. Neste ensaio, buscamos evidenciar o quadro geral da organização desportiva da Capoeira a nível nacional e internacional, suas fragilidades, conflitos e deficiências estruturais enquanto modalidade agonística de luta, os quais não permitiriam segundo as exigências do Comitê Olímpico Internacional, que esta fosse catapultada a desporto de competição olímpico. Desta forma, buscou-se confrontar a realidade do desporto de identidade nacional Capoeira e a sua pretensão olímpica, baseando-nos na análise do seu processo de desportivização, na lógica interna da modalidade representada por seus regulamentos através dos tempos, e nas exigências legais para o efeito. O método usado foi o de caráter etnográfico, sendo desenvolvido através de multimetodologias, em que se destacam a análise bibliográfica e documental (cartas, decretos, leis, jornais, revistas, folhetos, estatutos, regulamentos, modelos de fichas de inscrição, apostilas de formação, relatórios, projetos, atas de reuniões e documentos pessoais de envolvidos diretamente no processo), análise de conteúdo e consequentes categorizações temáticas, e a realização de entrevistas com dirigentes federativos da modalidade na altura dos fatos, e com antigos dirigentes que estiverem na luta pela autonomização desportiva da Capoeira. Das análises efectuadas, concluímos, fundamentalmente, que o desenvolvimento desportivo da Capoeira com via ao seu enquadramento como prática agonística de luta, encontra-se defasado, estaganado e cristalizado num modelo anacrónico que em nada contribuiu para a consideração da possibilidade do seu reconhecimento como desporto olímpico pelo Comitê Olímpico Internacional.