Integra

O Mestre Edomir, da Academia Poética Brasileira, escreve artigo em que a Capoeira aparece como ‘pano de fundo’, descrevendo a beleza dessa importante manifestação cultural brasileira e, sobretudo, ludovicense/maranhense...

Mhario me pede um artigo sobre a mesma Capoeira... em alguns dos comentários na postagem de Edomir, fizeram referencias a meu trabalho no resgate da “Capoeiragem Tradicional Maranhense”, como denomino a Capoeira praticada no Maranhão – a Capoeira do Maranhão!!!!

Sim, a Capoeira no Brasil possui as suas vertentes, sendo a mais conhecida delas a bahiana, nas suas características, ou modalidades, de Angola e Regional; na Bahia, além dessas duas – e pouca (re)conhecida -, existe a do Recôncavo...

Mas temos também, como das mais antigas, em sua manifestação, a Capoeiragem carioca – tão bem descrita pelo Mestre do Quilombo do Leblon André Lacé Lopes – quando de seu resgate, em especial a Capoeira de Sinhozinho e de Mestre Zuma, e, para espanto dos maranhenses, tem como um de seus precursores nada menos que Coelho Neto: sim! O ‘nosso’ Coelho Neto, reconhecido, pela Federação Internacional da Capoeira – FICA – como um dos precursores, ao lado de Zuma, Sinhozinho, Bimba e Pastinha.

No Recife, veio dar no frevo...

E em São Luís? A Capoeiragem – prefiro esse termo: luta dramática de rua!!! Na definição de André Lacé – é tão, ou mais, antiga quanto a carioca, a bahiana, ou a pernambucana!!! Os primeiros registros a dão como surgida no Rio de Janeiro no final dos 1700, e aparecendo, a partir dos 1800 na Bahia (Salvador e Recôncavo), no próprio Rio de Janeiro, em Recife, e em São Luís... Existem registros de sua prática próximo ao Palácio do Governo nos anos 1820, conforme jornais da época, e o informe de que há muito era praticada no interior e na periferia.

Abrindo um parênteses, num dos Congressos Brasileiros de História dos Esportes, Educação Física e Lazer, ainda no inicio dos anos 2000 – Ponta Grossa, 2004 – apresentei um trabalho sobre a Capoeiragem do Maranhão; na plateia, Lamartine da Costa e um outro professor, depois soube baiano. Logo mais à tarde, a abertura oficial, e a Palestra magna, de abertura, seria dada pelo Professor Catedrático de Capoeira da Universidade de Coimbra!!! Paulo Coelho – não ‘aquele’ Paulo Coelho... – e começou falando: minha tese de doutorado, na Universidade de Coimbra, que possibilitou meu ingresso como Catedrático naquela Universidade portuguesa foi colocada por terra agora pela manhã, na apresentação do professor maranhense!!! A capoeira no Maranhão é tão antiga quanto a da Bahia e a do Rio de Janeiro ou Pernambuco...

A memória registra que a Capoeira no Maranhão teria surgido, ou implantada, no final dos anos 1950/60 por dois capoeiristas: o primeiro, maranhense, escafandrista da Marinha, que veio para a construção do Porto do Itaqui, procedente do Rio de Janeiro – Roberval Serejo; o outro, o nosso Mestre Sapo, chegado logo após. Só que aqui, ambos já encontraram as rodas do Mestre Diniz, acontecidas na Praça Deodoro... Mestre Diniz aprendera com um tio seu, e via os movimentos dos carregadores no Cais da Sagração, em seus momentos de folga, quando vinha ao centro da cidade: praticavam a ‘carioca’...

“Carioca” é uma denominação que a Capoeira recebeu em São Luís e em algumas cidades do Maranhão, onde o tráfico negreiro foi intenso, em especial após o 1835. Encontramos essas referencias em cidades como Cururupu, e em quase toda a Baixada; em Rosário, em Codó, assim como encontramos, no Maranhão, em 1874, uma postura municipal proibindo o ‘jogo da capoeira ou carioca’ bem antes da legislação de 1890, que a criminalizou, em todo o território nacional.

Quando se fala em tráfico negreiro imagina-se que seja a ‘diáspora forçada’ a partir da África; mas não, havia intenso tráfico interprovincial também; quando da expansão econômica do Maranhão naquelas primeiras décadas dos 1800, muitos escravos provenientes do Rio de Janeiro foram importados por latifundiários maranhenses, em especial para as plantações da Baixada; daí, talvez, aquela dança-luta que apresentavam ser chamada de ‘carioca1...

Mas no Maranhão, dentre as ‘capoeiras primitivas’ – assim as denomino – encontramos a famosa ‘Punga” – registrada por Câmara Cascudo como originária do Maranhão e só aqui praticada; depois da criminalização no ano de 1890, passamos a conviver com a ‘punga’ praticada por mulheres, dentro do Tambor de Crioula. Mas a ‘punga dos homens’ ainda é tradição em regiões remanescentes quilombolas, como em Rosário e, mais recentemente, resgatada em São Luís, pelos Mestre Patinho, Marco Aurélio, dentro do Tambor de Mestre Felipe... a Punga dos Homens é uma capoeira primitiva!!!

Além da ‘Angola”, da “Regional”, da “Contemporânea”, temos a “Tradicional Maranhense”!!!

Parabéns, Edomir e Mhario, por essa bela crônica envolvendo a ‘nossa capoeiragem’: é assim mesmo, uma ‘luta dramática’ de vida...