Resumo
No contexto da Reforma Psiquiátrica, diversas modalidades de intervenções terapêuticas se apresentam como importantes ferramentas, que contribuem para a reabilitação psicossocial de pessoas com diagnósticos de transtornos mentais. Associadas aos psicofármacos, na forma de oficinas terapêuticas, auxiliam de forma eficaz na manutenção do controle do sintoma psiquiátrico, possibilitando a reabilitação. Entre essas modalidades, está a Capoeira Angola. Esta investigação teve o objetivo de verificar a contribuição da Capoeira Angola na reabilitação psicossocial de pessoas com diagnósticos de transtornos mentais e de avaliar uma proposta de intervenção grupal breve, aqui chamada CapoTerapia, com a utilização deste tipo de Capoeira, no contexto da Reforma Psiquiátrica. Com base no referencial da reabilitação psicossocial, foi desenvolvida em uma associação de apoio às pessoas com diagnósticos de transtornos mentais. Para isso, sete usuários desta associação, todos com diagnóstico de esquizofrenia, participaram de uma oficina, que utilizou a Capoeira Angola como forma de intervenção terapêutica grupal breve. A oficina, CapoTerapia, oferecida em oito encontros temáticos, foi observada pelo pesquisador e dados desta observação foram registrados em um diário de campo. Ao final de cada encontro, foi realizada uma roda de conversa com os participantes, relativa ao tema trabalhado. Esta conversa foi gravada, transcrita na íntegra e sintetizada. No final das oito oficinas de CapoTerapia, foi feita uma entrevista individual com cada um dos participantes, também gravada, transcrita na íntegra e sintetizada. Os dados, obtidos através das observações, das conversas e das entrevistas, foram agrupados em categorias temáticas, que expressavam o significado do conteúdo manifesto e analisados à luz da análise qualitativa descritiva. Os resultados mostraram que a Capoeira Angola possibilitou aos participantes vivenciarem equilíbrio relativo aos seus estados emocionais, principalmente a integração entre corpo e mente. Através dos movimentos utilizados, levou os participantes a se exercitarem fisicamente, estimulando o cuidado à saúde física. Promoveu a autoestima e a autoconfiança. Motivou o estreitamento das relacões sociais, combatendo a solidão, própria dos transtornos mentais e abriu espaços para a socialização. O uso dos instrumentos da Capoeira Angola e também da musicalidade, criou oportunidades para o desenvolvimento da criatividade, facilitou a expressão de seus sentimentos e ofereceu alternativas para o controle da agressividade. Assim sendo, pode-se considerar que a Capoeira Angola, na forma de oficina CapoTerapia, mostrou-se como uma importante ferramenta a ser utilizada na assistência à saúde mental, na busca da reabilitação psicossocial de pessoas com diagnósticos de transtornos mentais, pois a sua prática facilitou a inclusão dos participantes em uma atividade cultural, desportiva e terapêutica, contribuindo também para a prevenção de reincidência desses transtornos