Resumo

O objetivo desta investigação foi proceder a uma análise descritiva e funcional das interações verbais de uma mãe com seu filho deficiente mental. Participou do estudo um par mãe-criança, sendo a criança portadora de Síndrome de Down. A criança tinha três anos e cindo meses no início das observações, que foram realizadas em quatro períodos, com um ano e sete meses de duração. Ao longo desses períodos foram realizadas dezesseis sessões de observação com o propósito de se conduzir uma análise extensiva que permitisse mostrar mudanças evolutivas do padrão interativo. As sessões de observação foram realizadas na casa dos sujeitos, duraram vinte minutos, na presença da mãe, da criança e de dois observadores. As interações do par foram observadas na situação de brinquedo livre. Os brinquedos foram oferecidos pelos observadores. Os comportamentos verbais vocais foram audiogravados e transcritos e os não vocais foram levantados a partir de registro contínuo. As transcrições das gravações permitiram informar sobre o desempenho verbal de cada membro da díade, através da freqüência e seqüência das verbalizações e pausas entre elas. Índices descritivos do comportamento verbal da criança e categorias descritivas e funcionais do comportamento verbal materno foram computadas para descrever qualitativamente o desempenho verbal da criança e o tipo de estimulação verbal a que ela estava sendo exposta. O padrão interativo foi ainda analisado a partir dos comportamentos verbais vocais e não vocais e caracterizado ao se identificar seqüências de interações deste par, pelo uso de uma nova metodologia seqüencial proposta. Esta metodologia permitiu descrever o fluxo interativo identificando-se unidades comportamentais extraídas das interações e focalizando-se parâmetros seqüênciais importantes, tais como: o tamanho e a natureza das seqüências, o iniciador e o finalizador das mesmas, bem como os temas em torno dos quais elas se desenvolveram. O padrão interativo deste par foi caracterizado pela maior freqüência de seqüências interativas e de menor freqüência de interação mal sucedidas e imitativas. Foi encontrado um alto nível de eficácia interativa e um padrão interativo bem próximo ao de crianças normais em relação ao tamanho das seqüências. A diretividade da mãe se fez notar pela maneira quase que exclusiva com que assumiu o papel de iniciador dos temas e das seqüências interativas. Houve uma adaptação da criança à diretividade materna. Mudanças foram observadas de um período para outro na utilização de temas nas seqüências, bem como nos temas a que a criança foi mais responsiva. Em relação às interações verbais vocais evidenciou-se um padrão temporal semelhante ao observado com pares de mães-crianças normais. A maior atuação da mãe foi ainda observada na freqüência com que assumiu o papel de locutor e na freqüência das verbalizações, que, em ambos os casos, e no decorrer de todo o estudo, foram três vezes superiores as da criança. O desempenho verbal da criança foi caracterizado como muito pobre e constituído principalmente de simples vocalizações. As verbalizações da mãe foram constituídas principalmente de ordens motoras, modelos, aprovações e desaprovações ao desempenho motor. As análises realizadas com as categorias verbais maternas, tanto descritivas como funcionais permitiram sugerir que a mãe está muito mais atenta ao desempenho motor da criança e muito menos as suas verbalizações. O padrão interativo pode ser caracterizado por um alto nível de interações em que o comportamento verbal da criança parece não ser um fenômeno operativo. Os dados fornecidos por esta investigação deverão fundamentar uma proposta de intervenção visando uma possível ampliação do repertório verbal da criança e alteração no padrão interativo da díade (onde o comportamento verbal da criança entre como um fator determinante).

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