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Diário de viagem com a Caravana do Esporte do Instituto Esporte e Educação

              Aqui e ali, uma castanheira solitária, do alto de seus quarenta ou cinquenta metros, testemunha o que acontece com a floresta que desafia os homens. Estou em Curionópolis, cidade que deve parte de sua fundação e seu nome ao Major Curió, figura controversa que teve destacada atuação na repressão à guerrilha do Araguaia. Durante a ditadura dominou com mão de ferro a região de Serra Pelada. Hoje a região, que inclui municípios como Curionópolis, Eldorado dos Carajás, Parauapebas e Marabá, sofre forte influência da Vale, que explora em terras paraenses a mineração de ferro, manganês, bauxita, níquel e estanho, entre outros metais. Formado na AMAN (Academia Militar de Agulhas Negras), Major Curió, depois da ditadura, foi importante chefe político, eleito duas vezes prefeito de Curionópolis.

               Ficamos três dias dando aulas para professores, professoras e crianças das escolas de Curionópolis. Meu contato mais direto foi com professores e professoras, de Educação Física e diversas outras disciplinas. O conteúdo de nossas aulas é o esporte educacional, detalhado em cinco princípios que definem, para o Instituto Esporte e Educação - IEE, essa área do esporte. Abordamos, na teoria e na prática, os princípios da Inclusão, da Diversidade, da Autonomia, da Construção Coletiva e da Educação Integral. Ou seja, para nós, do IEE, só é educacional o esporte que inclui a todos. Professores e professoras que atuam no esporte educacional precisam desenvolver competência para incluir todas as pessoas do grupo com o qual estamos atuando. No caso de Curionópolis, abrimos a formação para todas as disciplinas; na arena de práticas lúdicas, todas as crianças, indistintamente, são acolhidas. Também só é educacional o esporte que, não só respeita as diferenças entre as pessoas, como as vê como fator de enriquecimento das relações em sociedade. Nossos trabalhos pedagógicos são feitos sempre destinando autoria aos alunos: planejam conosco, sugerem, criticam, mudam, corrigem, junto com os professores. Com isso damos conta dos princípios da Autonomia e da Construção Coletiva. Por último, entendemos que, além de ensinar bem o esporte, temos que ensinar além dele, porque nossos alunos vivem além do esporte, e precisam levar para fora dele conhecimentos que lhes permitam, de acordo com suas idades, contribuir para uma vida pessoal e social sempre melhor.

               Constatei que o nível de conhecimento dos professores e professoras que fizeram comigo a formação é acima da média nacional. Claro, trata-se apenas de uma visão superficial, porém, como dou aulas em todo o Brasil, tenho uma razoável percepção a respeito. Notei também, observando a arena de práticas, crianças extremamente ativas e alegres e adolescentes muito participativos e respeitosos com os professores.

               Curionópolis passou-me a impressão de ser um lugar de esperança de um Brasil melhor. É muito bom viajar para esses lugares menos conhecidos do Brasil e voltar com essa impressão. Os graves problemas do Brasil estão todos presentes na região, mas o contato com os professores acende essa esperança de um Brasil melhor. Em Curionópolis eu não quis saber em quem votaram, todos eram meus alunos e alunas. É hora de juntar todo mundo, exceto, claro, os fascistas. Mas eles não estavam entre meus alunos e alunas. Minha ideia é a de que são eles e elas os professores e professoras do Brasil. Nossa educação só melhorará se eles e elas melhorarem. É para isso que trabalhamos na Caravana do Esporte.