Integra

Amigos:

Estou escrevendo este texto em plena terça-feira de carnaval, pois veio à minha cabeça uma experiência por mim vivida que, inclusive, se tornou um case que costumo utilizar como exercício em cursos sobre gestão do lazer buscando alternativas de solução.

Alguém tem dúvida que o carnaval é também uma expressão do lazer? Como tal, qual é o papel do gestor público de lazer em um município de grande porte ao administrá-lo?

Em meados dos anos de 1990 fui Secretário da Educação e Cultura em Sorocaba (na ocasião, com aproximadamente 400 mil habitantes). Naquela época toda área de parques e artes (“cultura”) estavam afetos a essa pasta, mas o carnaval era administrado pela Secretaria de Esportes e Lazer (SEMES). Durante a realização do carnaval no segundo ano de mandato, o titular da SEMES simplesmente se “atracou” com o Presidente da Associação das Escolas de Samba e, por “sugestão” do Prefeito, o carnaval do ano seguinte passou para a nossa responsabilidade.

A primeira iniciativa tomada foi pesquisar o que o carnaval representava para a cidade visando transformá-lo, de um “evento”, em num programa que começasse bem antes do período a ele destinado e se “prolongasse”, através de um grupo de trabalho, formado por técnicos da Prefeitura e representantes dos diversos segmentos dessa grande festa com o objetivo de avaliar os resultados obtidos e começar o planejamento do próximo ano.

Com o apoio total do Prefeito, criamos pólos para difundir a “cultura carnavalesca”, com oficinas de fantasias, organização de bailes em bairros periféricos da cidade, incluímos o carnaval como tema escolar nas escolas municipais, entre outros. Para o carnaval em si montamos duas estruturas físicas distintas: a avenida para o desfile dos blocos e escolas de samba e na praça central (500/1000 metros desse local), um verdadeiro salão de baile para que as pessoas pudessem “brincar” uma vez concluído o desfile no período noturno, mas com direito a bailes vespertinos para a garotada, com concursos de fantasias, etc.

O grande desafio era mesmo a avenida. Lá montamos uma infraestrutura profissionalizada de arquibancadas para 20 mil pessoas (acesso gratuito), som e luzes monitoradas ao longo da avenida, painéis eletrônicos para informar a população (estamos falando de 1995…), além de ter disponibilizado recursos financeiros para as escolas de samba e blocos locais. Também trouxemos profissionais de São Paulo visando orientar as escolas locais como preparar, da melhor forma possível, seus integrantes (adereços, bateria, etc.). A segunda-feira seria a “noite de gala”, com presença do “Bloco de Bichos” de Tatui, cidade próxima daqui, com mais de 100 integrantes usando fantasias de papel maché e, como “apoteose”, a apresentação de 500 figurantes de uma escola de samba famosa de São Paulo, com o objetivo de criar algumas referências para os grupos locais, além, é lógico, de proporcionar um belo espetáculo para o público.

O desfile deveria começar pontualmente às 20h00, pois o bloco de Tatui tinha um compromisso com sua própria cidade às 21h00 e o grupo de São Paulo viria em 12 ônibus, especialmente fretados para tal, com saída prevista de sua sede, próxima da Marginal Tietê, às 18h00 (Sorocaba está a uma hora e meia de São Paulo).

Cenário às 19h30:

Público de 20 mil pessoas lotava as arquibancadas;
Locutor, com marchinhas tradicionais animando o público presente;
“Comitiva Real” (Rei Momo, Rainha e princesas) posicionada para iniciar o desfile;
Bloco dos Bichos (… feitos em papel maché…) pressionando para dar início ao desfile, pois começava a garoar e as fantasias se desfazeriam com a chuva;
Os 12 ônibus tendo dificuldades para sair de São Paulo devido a forte chuva que assolava a região…

Como gestor público de lazer, o que você faria?

        Forte abraço.

Bramante

P.S. Se você quiser saber como resolvemos essa “parada” (literalmente…), num dos próximos textos descreverei as “agruras” de um gestor de lazer…

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