Resumo
A partir de uma abordagem qualitativa de investigação, essa dissertação busca problematizar como representações de gênero e sexualidade associadas à dança produzem efeitos na trajetória de vida de homens bailarinos. A perspectiva teórica pós-estruturalista dos Estudos Culturais, articulada às de Gênero e Sexualidade (HALL,1997a; 1997b; SILVA, 2003; LOURO,2001; 2003; 2004; MEYER, 2003; WEEKS, 2001; SILVEIRA, 2002; 2005; ARFUCH, 1995; 2001) me permite olhar e refletir sobre essa temática. Apresento as narrativas de bailarinos que desempenham diferentes funções (dançarinos, coreógrafos, professores, empresários, críticos e escritores) no mundo da dança portoalegrense, as quais foram obtidas a partir de entrevistas gravadas e, posteriormente, transcritas. Tais narrativas me permitiram elencar algumas recorrências (por exemplo, a representação da dança como uma atividade predominantemente feminina ou, ainda, como uma “coisa” de homossexuais), as quais funcionariam como “barreiras” que precisariam ser transpostas/ dribladas/ superadas pelos bailarinos em diferentes momentos de suas vidas. A fim de ilustrar a recorrência de tais representações, apresento, também, as cenas e diálogos do filme Billy Elliot, entrecruzadas às falas de meus entrevistados. A partir das análises realizadas, é possível dizer que os bailarinos entrevistados iniciam tardiamente a prática da dança, ascendem rapidamente à condição de profissionais e exerceram várias ocupações simultaneamente. Eles também parecem querer se distinguir de um “certo modo” feminino de dançar e conceber a própria dança. Embora o cenário contemporâneo pareça oferecer “outras” possibilidades para que um homem dance, as representações anteriormente destacadas disputam a significação com o cânone da dança (o balé clássico). Assim, tal como na história de Billy, os bailarinos porto-alegrenses também passam por momentos decisivos ao assumirem tal profissão e as posições de sujeito por ela oferecidas. Driblam as “barreiras” de gênero e sexualidade e assumem os riscos dessa escolha, o que, para alguns, significa romper com laços familiares e com certas tradições culturalmente estabelecidas.