Cerimônia de abertura de Santiago 2023: do “fim” ao “começo” do mundo
Por Doiara Silva dos Santos (Autor), Clarisse Silva Caetano (Autor), Larissa Fátima de Azevedo Lellis (Autor), Augusto Fernandes Condé (Autor), Gabriel Felipe Silva Coelho (Autor).
Resumo
As cerimônias de abertura de eventos esportivos são formas de comunicação cultural e justapõem diversas dimensões, com aspectos rituais, festivos e espetaculares. Os Jogos Pan-Americanos (Pan) são o maior evento multiesportivo das Américas, endossado pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) como a autoridade suprema do Movimento Olímpico nas Américas. O Pan oferece um palco único para examinar as culturas e expressões esportivas latino-americanas. O objetivo deste estudo foi analisar discursos e representações de identidade, valores e questões sociopolíticas na cerimônia de abertura dos Jogos de Santiago 2023. A pesquisa é qualitativa e utilizou a etnografia para produzir dados. Notas de campo foram utilizadas para análise. Como dados suplementares, adicionamos detalhes da cobertura da cerimônia dos Jogos Pan-Americanos de um canal brasileiro do YouTube. O Chile sediou o Pan pela primeira vez na história. Mais de 35 mil espectadores compareceram ao Estádio Nacional, com a presença de Thomas Bach, presidente do COI. O espetáculo foi chamado de "A Terra e sua Gente" e retratou a formação histórica do Chile em dez atos, com representação de povos indígenas e disputas territoriais e coloniais. As dimensões rituais e festivas enfatizaram valores de resiliência e disciplina ligados ao esporte e ao povo chileno diante das bandeiras olímpica e pan-americana. O elemento central do ritual cerimonial enfatizou as complexidades geográficas e territoriais do Chile, exigindo uma mudança na narrativa sobre o Chile ser o "fim do mundo" para ser entendido como o "começo do mundo" com base neste evento esportivo. O Pan em Santiago 2023 exibiu um senso de identidade por meio de expressões culturais únicas e a apropriação de símbolos, protocolos e valores do Olimpismo para tornar visível a heterogeneidade dos povos chilenos em uma dialética com uma reivindicada unificação das Américas.
REFERÊNCIAS
MacAloon J. Jogos Olímpicos e a teoria do espetáculo. Em: MacAloon J. (Ed.). Rito, drama, festival, espetáculo: ensaios em direção a uma teoria da performance cultural. Filadélfia: Institute for the Study of Human Issues; 1984. p. 241-280.
Baker C. Além da história da ilha?: A cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Londres 2012 como história pública. Repensando a história. 2015;19(3):409-428.
Guttmann A. Os jogos devem continuar: Avery Brundage e o Movimento Olímpico. Nova York: Columbia University Press; 1984. p.88.
Santos DS. Avery Brundage, Jogos Pan-Americanos e Entrincheiramento do Movimento Olímpico na América Latina [Tese]. 2015. Londres (CA): The University of Western Ontario; 2015.
Torres C. Olímpico ou sagrado? A controvérsia sobre a chama nos Jogos Pan-Americanos inaugurais de 1951 e suas consequências. The International Journal of the History of Sport. 2019;36(4-5):340-358.
Mataruna L. Percepção dos Jogos Pan-americanos Rio 2007 por especialistas internacionais em Estudos Olímpicos. Em DaCosta L et al. Legados de Megaeventos Esportivos. Brasília: Ministério do Esporte; 2008. pág. 337-342.
Atkinson P, Amanda C, Sara D. Etnografia: pós, passado e presente. Journal of Contemporary Ethnography. 1999;28(5):460-471.
Bravo G, Silva J. Política esportiva no Chile. Revista Internacional de Política e Política Esportiva. 2014;6(1):129-142.
Brasil JA, Cabecinhas R. Representações sociais da história latino-americana e das relações (pós)coloniais no Brasil, Chile e México. Jornal de Psicologia Social e Política. 2017;5(2):537-557.
Sotomayor A. Olimpismo colonial: movimento olímpico de Porto Rico e Jamaica no esporte pan-americano, de 1930 a 1950. Em: Torres CR, Kidd B. (Eds.). Historicizando os Jogos Pan-americanos. Abingdon: Routledge; 2017, p. 136.
Barney RK, Wenn SR, Martyn SG. Vendendo os Cinco Anéis: O Comitê Olímpico Internacional e a ascensão do comercialismo olímpico. Utah: University of Utah Press; 2002.
Mascarenhas F. et al. O bloco olímpico: estado, organização esportiva e mercado na configuração da agenda Rio 2016. Revista da ALESDE. 2012;2(2):15-32.