Integra

Instituído em 1924, o lema olímpico contém um apelo à transcendência dos limites e ao esgotamento das possibilidades. Fernando Pessoa acolheu-o: “A normalidade é uma ilusão imbecil e estéril.” Ora isto suscita interrogações.
Para que nos presta o salto com vara e este beirar os 6,20 metros? E correr os 100 metros planos em menos de 10 segundos? E todos os outros recordes? Sim, qual a utilidade de consagrar tempo e energias à realização de tais prestações? A resposta é clara: vale para o mesmo que a literatura e a norma culta da escrita e da fala, a música erudita e todas as modalidades de cultivo, de busca e configuração do belo e bom.
Tudo isso são coisas de minorias. Pois são! Mas, sem elas, sem a admiração e o apreço do difícil, do elevado, do impossível e requintado, sem o amor à arte, à beleza e à criação de obras invulgares e extraordinárias, as maiorias perderiam a atração e a sedução pelo que as excede, entregar-se-iam ao pasmo, condenariam a estesia, a imaginação, o sonho e o deslumbramento à morte. A tirania da feiura, da incúria, do marasmo e ruído tomaria conta da existência; e esta seria um manicómio insuportável.