Clubes Esportivos e Recreativos

Parte de Atlas do Esporte no Brasil . páginas 178 - 183

Resumo

Os clubes esportivos e recreativos (ou Associações Desportivas, segundo a terminologia legal) constituem a base do desenvolvimento dos esportes em geral e um dos fatos de maior destaque sócio-cultural no Brasil, embora raramente reconhecido como tal. Um prenúncio deste hiato de percepção coletiva, aconteceu no século XIX quando apareceram no país os primeiros clubes relacionados ao esporte, e logo se tornaram mais visíveis quando estabelecidos e freqüentados como distinção social. Os demais, sempre em maior número, foram negligenciados por representar interesses mais comunitários e locais do que dos grupos mais abastados e de maior impacto na opinião pública. As associações de prestígio social dedicadas aos esportes naturalmente surgiram nas cidades maiores ao passo que os de índole comunitária floresceram em centros urbanos médios e pequenos e/ou em suas periferias e áreas rurais. Enquanto os clubes de elite se moldaram aos hábitos da burguesia comercial (século XIX) e/ou industrial (século XX), os de apoio da comunidade local abrigaram caracteristicamente pequenos grupos advindos das principais correntes imigratórias que entraram no país no século XIX e início do século seguinte. Isto posto, os clubes de prática esportiva e de atividades recreativas refletiram em suas origens hábitos culturais alemães, italianos, japoneses e outros, gerando uma alternativa à cultura lusófona então prevalecente. Esta particularidade deu um significado peculiar ao associativismo esportivo brasileiro ao ser comparado com outros países da América Latina ou da Península Ibérica. Em primeiro lugar, porque não adotou inteiramente a influência inglesa nos esportes importados, como aconteceu nos exemplos da Argentina e do Uruguai. Além disso, os novos clubes brasileiros cresceram no interior das províncias do Império e depois dos estados da Federação Republicana, não se concentrando nas capitais, o que os fez se distanciarem então do que se passava nos demais países da América Latina (Chile à parte, dado a que repetiu com imigrantes alemães algo semelhante ao Brasil). Como resultado, o clube esportivo e recreativo brasileiro definiu-se como um fato social mais concentrado no sul do território nacional onde afluíram os imigrantes em maior número. Outra conseqüência refere-se ao fato de que os clubes de imigrantes – principalmente os localizados em áreas rurais e de maior ocorrência no RS, SC, PR e SP – manejavam mais com as carências do que com a afluência, dando origem a uma vocação esportiva voltada para a identidade cultural e menos sujeita a modismos.

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