Resumo

Sabemos que historicamente homens e mulheres não tiveram as mesmas oportunidades de acesso ao mercado de trabalho. Às mulheres coube o espaço doméstico e aos homens o público e o poder econômico. Não obstante, a situação também se reflete no mercado esportivo, mais especificamente no futebol, um esporte tradicionalmente feito por homens e para homens. Nesse sentido, destacamos como objetivo deste estudo, compreender a atuação de mulheres em cargos de gestão no futebol profissional masculino brasileiro, por meio das suas trajetórias pessoais. Para tal, organizou-se um estudo de abordagem qualitativa e caráter descritivo e interpretativo. Para a coleta de dados utilizou-se a técnica de entrevista, realizada com quatro mulheres que ocupavam em 2017, cargos de diretoria e gestão em clubes do futebol brasileiro. A análise dos dados seguiu a técnica da análise de conteúdo, de acordo com Bardin. Através dos discursos sobre as formas de inserção, os desafios à frente da gestão dos clubes de futebol e as dificuldades enfrentadas dentro do ambiente organizacional futebolístico, um ambiente culturalmente de predominância masculina foram os temas discutidos. Observou-se que existe uma sub-representatividade de mulheres nesses postos e desafios constantes para exercerem seus cargos, que são institucionais. Mesmo as mulheres que exercem cargos remunerados, de alguma maneira para se manterem em seus postos precisam de conexões estratégicas e redes de contatos, engajamentos e articulações políticas com os homens dentro do clube. As dificuldades encontradas indicam que o futebol ainda se manifesta como um meio estruturante de uma hierarquia de gênero. Concluímos que as mulheres em cargos de gestão no futebol brasileiro representam uma resistência ao ocuparem esses espaços tradicionalmente reservados aos homens, abalando mesmo que de forma ainda tímida as estruturas de poder estabelecidas e questionando os discursos sociais instituídos.

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