Como as bets usam o futebol para atrair ao jogo de azar
Por Xico Sá (Autor).
Resumo
Muito além do caso Bruno Henrique, as apostas esportivas podem ser apenas iscas para jovens que acabam dependentes da jogatina
05/11/2024 | 16h34
Mais um jogador de futebol sob suspeita de envolvimento em manipulação de apostas. Quem está na mira da Polícia Federal é o atacante Bruno Henrique, do Flamengo, que teria forçado cartão amarelo e expulsão para ajudar apostadores — episódio do Brasileirão 2023, em partida contra o Santos. Casos semelhantes são cada vez mais comuns no mundo inteiro.
É grave, mas há algo ainda pior. O mundo do futebol (atletas, jornalistas esportivos e influenciadores) provoca uma desgraça, rotineiramente, ao levar milhares de pessoas ao vício da jogatina das Bets.
Quando um Galvão Bueno, por exemplo, aparece no horário nobre da TV celebrando a regulamentação das apostas, ele não está levando os jovens (pobres, na sua maioria) apenas a “fazer uma fezinha” no clássico da rodada. Entre na página da BetNacional e você verá a arapuca: o jogo do tigrinho, a top roleta e o cassino ao vivo são as principais atrações.
O jovem capturado pela isca do futebol pode até fazer a sua aposta em um clássico do Brasileirão ou da Champions League, mas o risco de perder a grana da família em um jogo de azar (e só azar) é gigante.
A forte presença no universo futebolístico, com patrocínios a clubes e resenhas esportivas, passa a impressão que tudo não passa de um inocente entretenimento. Como se a brincadeira ficasse apenas em torno de um Fla-Flu, um Real Madrid x Barcelona ou um Ba-Vi.
Por causa do forte atrativo do futebol, com potencial de levar a garotada para o vício da roleta ou do tigrinho, o governo da França já proibiu a participação de influenciadores e atletas (o craque Mbappé foi um deles) nos anúncios publicitários das bets.
O caso Bruno Henrique vai chamar muito a atenção sobre o perigo dos manipuladores de apostas. Pode ter sido algo criminoso, vamos acompanhar as investigações.
Ao atrair as pessoas de baixa renda para os cassinos instalados nos celulares, os atletas, jornalistas esportivos e influenciadores estão levando os brasileiros para a doença da jogatina. Nada disso é caso de polícia, afinal de contas as bets serão regulamentadas, mas é de uma irresponsabilidade inesquecível na vida de milhares de famílias.